sábado, 21 de julho de 2012

O amor (entre suas infinitas vertentes)


Amor, amor. É mesmo surpreendente tamanha certeza do que se sente sem nenhuma explicação que comprove esse habitante fixo dos corações. Sabe-se de sua presença apenas pela grandeza de amar. Sem auxílios nem motivos. Razões inexistem. Ah, o amor... quando vem, nega passagem pra qualquer outro flerte que não seja aquele único que aquece de tal maneira que chega a corar as bochechas dos mais acanhados. E quando vem, é exibido sem resquícios de moderação no sorriso largo estampado na cara dos apaixonados. E quando vem, não esconde os poros e pelos de todo o corpo ouriçados pelo toque do outro na pele dos mais ousados. E quando vem, fere mais do que chamas vívidas o peito de quem sofre por não ter por perto o abraço que poderia poupá-lo de tanta dor. E quando vem, vira de cabeça pra baixo o mundo dos intensos que se entregam de todas as formas que conseguem a esse sentimento que transforma a vida. E que não pergunta. Não pede licença. Se auto afirma e que se cuidem aqueles que resolvem afrontá-lo. Estes compram não só uma briga, mas uma guerra inteira com a maior inimiga de toda permissividade que defende o amor: a explicação. E repito que não há porquês dentro da loucura de amar. Ele existe e independe do corpo escultural, da voz sedutora, do beijo que faz desaparecer o fôlego, das palavras bonitas, dos poemas românticos, das declarações públicas de afeto e do sexo que queima as calorias que uma hora de esteira não seria capaz. Estas são só consequências. Quem procura as raízes desse sentimento, o faz em vão. É que nunca se sabe exatamente quando foi que ele nasceu. Se foi logo no primeiro beijo ou depois de uma discussão que tinha tudo pra ser irreversível. É um processo contínuo, dormente, que se arma inteiro até estar resistente o suficiente para dar o bote. E só ai, então, é que se dá conta de que ele vive. Quando já está ali. Plantado. Maduro. Trancafiado entre as artérias e pulsando no ritmo das batidas vitais. E ninguém consegue movê-lo. É sedentário no peito nômade de quem o teme e por isso foge. Mas o amor é paciente. Enxerga além de tudo que o afasta de seu verdadeiro lar e espera. Espera o tempo com o tempo e pelo tempo – a bússola sem direção dessa viagem. Espera o tempo passar, espera o tempo chegar. Espera com uma paciência incompreensível de quem já não mais se afeta pela demora. É a desesperança alimentada pela própria esperança. É a crença naquilo que já perdeu todos os indícios de credibilidade. Mas ainda assim é crível. Por quê? Porque é amor. E amor não se explica, apenas se sente. Sente-se e espere que ele virá. Doce como chocolate quente em dias chuvosos de carência e sentimento aflorado. Inconseqüente, metendo os pés pelas mãos em cada tentativa de acertar. Azedo, contaminado pela pressão incessante de um mundo capitalista. Voraz, com pressa de viver uma história intensa em meio a tantos corações descartáveis – corra, antes que este também se vá pela lixeira detrás da porta! Complicado, recheado de obstáculos-testes que ponham á prova o sentimento alheio. Ardente. Ciumento. Doentio. Dependente. Livre. A maneira não importa; ele virá. E quando isso acontecer, evite os diagnósticos. O amor é subjetivo demais pra ser metodizado, por isso, não defina nem limite a expressão mais bela de todo ser que é vivo e ama. Alie-se por mais uma vez ao tempo, pois ele sim é o único capaz de destrinchar e acalmar todas as turbulências que o amor provoca. E por fim, compreenda. Já disse Fernando Pessoa que “tudo o que chega, chega sempre por alguma razão.” Ninguém melhor do que esse sentimento louco e revolucionário para oferecer a cada coração o instigante desafio de tentar desvendá-lo enquanto em vida estivermos.