Olha, eu prometi pra mim mesma que não iria mais escrever qualquer palavra sobre você, mas é isso o que melhor sei fazer sempre que me encontro tão tangível, bem como tenho estado hoje. Não tenho mais o que falar e ainda assim escrevo, apago e reescrevo, buscando nas linhas de cada folha, a cada nova palavra, uma tentativa, um meio de colocar pra fora tudo isso que me consome e então tentar te expulsar de dentro de mim como quem joga fora tudo o que já não é mais útil para si – contas pagas, roupas velhas, amores irreversíveis. Mas não consigo e não há adjetivos, comparações ou metamorfoses que exprimam e entendam o que se passa nesse caminho tão estreito e seletivo no qual meu coração se transformou e que é o lugar em que você vem bravamente se encaixando com total liderança há tempos.
Começo te pedindo desculpas caso você se sinta exposto quando te descrevo. Tudo o que eu não quero é que você se incomode com qualquer lembrança que em mim é mantida viva e, ainda que camuflada nas turbulências do dia a dia algumas vezes, destacam-se imediatamente quando te vejo. É assim mesmo, sem exageros ou hipérboles: os segundos que tenho ao seu lado, mesmo que não mais a sós, são suficientes pra me deixar perdida em meio a caminhos que antes eu poderia traçar de olhos vendados. Ainda sinto uma sensação mista de frio e calor quando você chega. Meu estômago se comprime, a boca seca, as mãos transpiram, as pernas tremem e o coração quase salta sobre suas mãos pedindo por socorro, como uma vítima de alguma tragédia que perde tudo o que tem, pois assim estou: perdida e desabrigada de ti.
Já me tornei repetitiva e disso eu tenho consciência, entretanto é desesperador ter que abraçar o travesseiro, (já encharcado de lágrimas) como consolo, por eu não poder te envolver em mim e sentir que meus braços não se encontram quando te abraço porque você é maior que eu. E dói. Dói como nenhuma outra dor. Dói mais do que um arranhão, um corte, ou alguma parte do corpo que é quebrada. Dói porque não tem comprimido nem homeopatia que cure a saudade. Dói e dá vontade de abrir o peito, partir pra ignorância, te devolver o que é só seu e dizer “toma, agora se vira e vê se cuida direito, hein?!”
Já não há mais espaço pra mim, nem mesmo físico porque nos incomodamos com a presença um do outro e isso está escancarado na cara de tacho que fazemos quando nos vemos, ou melhor, quando não nos vemos, porque falta nexo até para uma troca de olhares, fracionária nos segundos, que seja, que não deixa disfarçar a inconveniência e a falta de suporte de um ambiente para dois corpos conturbados e carregados, mas talvez até seja melhor assim, pois te estranho, quando passa por mim, vejo que é só mais uma pessoa pra cumprimentar – quando estou em público – e, agora, mais raro do que nossas trombadas num bar ou na casa de um amigo, é a falta de um elo que não sei qual é, mas que já nos ligou.
Não peço mais que você volte, e sim que vá. Siga sua sina, abrace sua sorte e viva seu caminho da melhor forma que puder. Tenho a plena confiança de que será feliz da forma que quiser, e esta felicidade certamente será fruto de todos os seus princípios que são fonte da minha berrante admiração. Enquanto isso eu te assisto aqui do outro lado com o carinho de quem aprendeu, caiu e hoje tenta se reerguer do tombo de quem a derrubou com aparentes boas intenções.
Ignore qualquer prova – óbvia, inesperada ou incompreensível – do meu amor se você quiser e me ignore também, mas respeite e não julgue. Não o sentimento, mas qualquer atitude que possa ser conseqüência dele e pela última vez, acredite, ele existe!

Nenhum comentário:
Postar um comentário