Sensibilidade a mil, sentidos à flor da pele e, sabendo olhar, conclui-se o quanto é bonito o envolvimento entre dois corpos. Hipocrisia é querer recriminar o que no íntimo de cada um é tão desejado e ver como pecado o que mais se quer na companhia de alguém: a união de dois corpos, similares ou não. São ímpares todos os motivos que temos para fazer com que cada combinação seja única.
Estar a sós com quem passaríamos o resto das horas nessa vida tão cheia de surpresas é o passaporte para a felicidade escancarada no riso que sai fácil do canto da boca e logo toma conta de todo o rosto nos segundos que parecem passar vagarosamente só de sentir a presença do outro. O aroma da pele, natural do ser humano, é que torna cada pessoa tão singular e nos remete no mesmo instante a quem plantou e ainda rega na companhia que teve, o desejo de repetir qualquer fragmento dos momentos que certamente são guardados na memória do corpo e da mente.
Perdem-se os sentidos racionais que apressam cada minuto daquele episódio tão pacífico e dá-se o caminho livre para a entrega total ao prazer. Um simples encontro com aquele que desorganiza todas as formas de pensamentos já planejadas para quando esse dia chegasse, é a chave para o embaraço que mesmo na tentativa esperançosa de estar escondendo a turbulência que ele causa, é transparente não só para todos que figuram secundariamente aquela cena que tem como protagonistas o ‘casal’ ocasional, como também para a fonte de toda essa adrenalina. O beijo de cumprimento dado na bochecha, lento e intenso, transmite todas as intenções que estão por trás desse breve ato e logo são captadas por ele quando seguido de um olhar atento e fixo às íris castanhas.
Os rostos se aproximam e já é perceptível a respiração ofegante que sai da boca entreaberta de ambos, as quais tiram de cena todos os milímetros que separam os lábios sedentos por um beijo. As mãos, ao mesmo tempo deslizantes e firmes, dão os cumprimentos umas as outras e como um ímã se entrelaçam sem nenhuma força contrária que as separe enquanto dura o abraço tão completo quanto duas peças de um quebra-cabeça que se encaixam; elas viajam por toda a extensão da pele que em um momento de completa entrega contraria qualquer pudor e deixa que sejam libertos todos os instintos camuflados nas vontades que há em cada corpo. Os olhos, cerrados, voltam aos poucos a se encarar após o laço que foi selado por um minuto. O coração fica palpitante e um frio inesperado que surge sabe-se lá de onde em meio a tanto calor humano, domina dos pés à cabeça o corpo que por hora é acéfalo – não pensa, só responde aos reflexos enviados e reciprocamente retribuídos pelos felizardos que acompanham um processo mútuo de pura inércia.
Esqueça o perfume de rosas, a chuva de prata e os anjos fazendo a trilha sonora de sua noite de amor com sinos e harpas. Real e gratificante mesmo, é sentir a necessidade do outro em tê-la para si só; é a vontade de absorver todas as sensações dadas e recebidas onde a única intenção é a busca pela felicidade ainda que por uma ou duas horas. É sentir cada pelo dos braços, costas ou barriga ouriçados porque os poros da pele se arrepiam naquele momento, e notar as batidas cada vez mais freqüentes do coração que mal cabe dentro do peito, tamanha satisfação que vive até que... o mundo se transforma e todo aquele cenário imaginado a princípio, em termos meramente psicológicos, acontece. A intimidade é tanta que abre portas à possibilidade de confundir onde é que termina os cabelos longos e soltos da moça para dar início aos pelos pequenos e espetados da barba por fazer do rapaz. Só o que se sente é o cheiro suave e romântico das rosas, tudo o que chove é prata, ouro, estrelas e os demais astros que fizeram a noite, de fato, brilhar e as harpas e toda a orquestra que se ouve, nada mais são do que os suspiros que expressam – em uma só palavra – a plenitude experimentada.
Vai embora, então, todo o transtorno que os impulsos hormonais e afetivos – independentes de amor e juras eternas – trazem consigo e ficam apenas as boas lembranças. Os pés que roçavam em sincronia um no outro, o braço musculoso que servia de apoio para os olhos que adormeciam, ou ainda os dedos delicados e leves que escorregavam do nariz em direção à testa com destino aos cabelos curtos que tanto são acariciados para amanhecer no outro dia com os dentes a mostra devido ao sorriso que estampa a cara e entrega os pensamentos. Como um filtro seletivo, do que não foi bom deve-se despedir, e apenas conviver diariamente com tudo aquilo que não se cansa de relembrar e esperar ansiosamente.

Nenhum comentário:
Postar um comentário