sábado, 24 de setembro de 2011

Dezoito


     Ele está chegando. Em breve e ao mesmo tempo vagaroso como quem é arrastado por um tédio contagiante em meio às horas da semana, que quase sempre é cansativa e me faz ansiosa por seu fim. Mas vem constante, cada dia mais próximo e eu, sem outra alternativa que acelere o ponteiro dos relógios, o aguardo.
     É curioso e estimulante tentar entender essa vontade implantada na juventude em querer envelhecer – pelo menos enquanto os fios de cabelos não branqueiem, a pele não enrugue e a lei da gravidade não dê os sinais de sua indesejável presença colocando para baixo tudo o que no lugar de sempre deveria permanecer. Todavia, se tornou convenção desejar e receber calorosamente a tão sonhada maioridade. Talvez alguns passos que a partir do décimo oitavo ano de vida possam ser tomados sozinhos, expliquem tamanha euforia até a chegada da hora certa de assoprar as velinhas sobrepostas no bolo que, simbolicamente, representa mais um ciclo encerrado. Pura ilusão. Que é que pode mudar da véspera de aniversário ao dia de glória que, na realidade, te dá dois tapinhas nas costas e de presente, o comunicado que a partir dali, você já pode ir preso e, se homem for, terá de alistar-se ao exército logo menos? Não adianta esperar pelo dia em que nasceu, dezoito anos após chorar e respirar sozinho pela primeira vez para então rebelar-se e acreditar ser dono do próprio nariz e os outros que te respeitem. Olha, se você não tem uma renda que te dê sustentação completa, que te faça independente das roupas passadas e engomadas que a mamãe faz questão de colocar em seu armário, que te locomova do centro da cidade ao bairro onde mora sem ligar para o papai te buscar, e ainda não tenha como se alimentar sem alguém que te chame dizendo que a comida está sobre a mesa, sinto lhe informar, mas é mais do que recomendável que você abaixe a crista que na adolescência insiste em querer se destacar e, mais uma vez, submeta-se às vontades de quem realmente merece respeito.
     Não quero ser tachada de careta e com um ar pessimista, negar toda essa liberdade que – em partes – os dezoito anos trazem. Adolescente que também sou, sei bem como é ter de esperar a idade imposta pela constituição para poder usufruir de certas ocasiões, e dentre elas, a mais cobiçada, a carteira de motorista. Sair pelas ruas cidade a fora sobre quatro rodas quando o mundo parece estar desabando bem em cima de nossas cabeças e sentir-se livre da hora marcada para colocar os pés de volta em casa; perambular por entre as esquinas e avenidas com os vidros abertos, deixando que o vento bata nos cabelos e refresque a alma que agora se sente, literalmente, maior, são algumas das tão notáveis diferenças cotidianas que vêm com os anos. E por falar em notáveis, há também o outro lado da questão que antes nunca fora visto, mas agora confunde e bloqueia tantas idéias um dia já quistas na prática.
     Escolhas e responsabilidades, profissionais ou sentimentais, da vida. O curso do vestibular que direcionará aos anos futuros vivendo daquilo que foi escolhido e tanto batalhado para se conseguir, em meio à tortura que é decorar as fórmulas mais desconexas que a física exige, as datas históricas de guerras e revoltas ou ainda a conjugação correta de um verbo defectivo. Estudar, estudar (geralmente aquilo que nunca será preciso). Palavra tenebrosa para mim, que sou contra qualquer obrigatoriedade que se mostre desnecessária às minhas necessidades vitais – e quanto a isso, me refiro ao parêntese pouco acima. Pensamentos antes longínquos aproximam-se em uma progressão geométrica que assusta. É preciso trabalhar, amadurecer e dar início á vida independente, trilhada com as próprias pernas e desprender-me do ninho que foi criado para que um dia eu abandonasse.
     Cresci, ainda que duvidem de tal fato e a essa nova fase dada à minha vida, temo e desconfio. É como se eu estivesse diante de um penhasco, segura apenas por um pára-quedas que talvez simbolize minha crença em algo que me tranqüilize, sejam santos, deuses, superstições, ou apenas a simpatia otimista pelo destino que agora me testa e me desafia pelas novas vertentes que o tempo imporá e que eu hei de encarar, sim.

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