segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Que é que a gente vai fazer disso?




          Cara, e se eu estiver gostando mesmo de você? Que é que a gente vai fazer disso? Dessa minha vontade absurda de te querer por muito mais que duas horas e um orgasmo. Dessa minha ansiedade de ter que esperar a semana passar pra eu poder te ver de novo. Dessa minha necessidade de ter seus olhos poderosos sugando qualquer restante do meu controle quando estou perto de você. Dessa minha fascinação pelo seu sorriso que a mim soa tão ingênuo e pueril. Dessa câmera fotográfica milimétrica na qual meus olhos se transformam ao registrar cada detalhe marcado no teu corpo; suas pintinhas tão delicadas, no rosto, do lado direito, um pouco acima dos pelos magnéticos da tua barba; e não só ali, mas também em todos os outros cantos escondidos da sua pele clara que me fazem sentir privilegiada em poder saber que elas estão ali. Que é que a gente vai fazer disso? Das suas mãos que se prendem à minha cintura e dos seus dedos que me fazem contorcer o quanto posso. Dos seus gemidos de prazer enquanto te sinto por toda extensão que minha língua permite. E da sua retribuição não menos prazerosa. Que é que a gente vai fazer das mensagens trocadas com uma malícia que não sobressai o meu carinho? E das vezes em que você quiser dormir sobre o meu braço que torno imóvel pra que você não acorde. Dos seus pés branquinhos e tão bem cuidados que eu sempre quero massagear na tentativa de aliviar com toda vontade um pouco do seu cansaço de todo dia. E dos meus dedos que se perdem em meio aos seus cabelos curtos querendo nunca mais voltar. Que é que a gente vai fazer desse meu medo terrível de me apaixonar perdidamente por você? De me por a prova dos meus próprios monstros em troca da liberdade do meu coração. Que é? Que é que a gente vai fazer? Dessa minha compulsão pela sua voz. Dessa minha veneração pela tua beleza. Dessa minha adoração pela tua barba que arrepia todos os meus poros quando vai de encontro à minha nuca. E até da sua barriga que eu adoro que não seja malhada. Que é que eu vou fazer pra acabar com essa desconfiança do que eu sinto? Que é que eu vou fazer pra exterminar todos os indícios de resistência á você? Ainda que seja pra eu quebrar a cara e o coração outra vez; ainda que seja por você. Que seja só por você. Você que tomou o lugar de tantos altos, e loiros, e sarados, e estúpidos, e de outros bilhões que poderiam me habitar. Você que eu escolhi pra ocupar esse lugar vazio há tanto tempo – se é mesmo que isso se escolhe. Você que ganhou esse espaço em tudo que é meu e que agora não me deixa mais só, tampouco livre das lembranças diárias. A vaga é sua, meu bem, e como promovido à minha paixão, está encarregado de decidir a próxima cena desse nosso espetáculo ainda sem roteiro a ser dirigido. A final de contas, que é, então, que a gente vai fazer disso?  

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Cuidado! Produto tóxico



(...) E como se não bastasse essa minha idiotice súbita por você, hoje fiz pior. Passando pelas prateleiras da farmácia, ao invés de me atentar a qualquer remédio que fosse efetivo contra essa doença com a qual você me contaminou, vi em destaque, à minha altura e disposição, dezenas daquele desodorante que você usava e entupia o quarto com essa fragrância forte, esse cheiro de homem que por tanto tempo foi meu perfume favorito. No começo estranhei a essência do dorso da minha mão. Fazia tanto tempo que não te sentia que demorei a reconhecer esse cheiro impregnado na minha pele. Mas a memória do corpo... ah, essa consegue ser ainda mais intensa; e depois das respirações profundas que pareciam fazer multiplicar o tamanho dos meus pulmões pra que coubesse um pouquinho mais de você aqui dentro, de novo te senti. Me veio pra lembrar que era esse mesmo o aroma que você exalava enquanto me intoxicava de amor. Pronto. Já pode começar a rir da minha cara agora mesmo, depois de ler essa babaquice infinita. Tô merecendo, eu sei. Mas enquanto você ri e debocha, eu continuo aqui, sentada, escrevendo, e entre um minuto e outro levando minha mão direita ao encontro das minhas narinas asfixiadas por você. (...) 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Na linha (editado)


Eu não queria escrever sobre você. Depois eu quis, mas não me deixei. Aí passou a vontade e eu já não queria outra vez. Mas eu tô tão sem ter o que fazer que eu acho que isso me parece o melhor pra hoje que tô meio down e sem nenhuma programação pra noite. O brigadeiro eu já deixei pronto na cozinha. Tá esfriando sobre a mesa pra me fazer companhia ao longo dessas palavras melancólicas que sei que logo virão. Coisa de gente depressiva mesmo. Que quando se vê frente a um possível conflito amoroso acha que o mundo vai acabar, que o sofrimento dará as boas vindas e no fim das contas dispensa qualquer esperança à vida afetiva. Repito: tudo por um possível conflito!
Mas já que agora eu comecei não vou ficar enrolando, então. Se o que tava me impedindo de voltar aos escritos era o medo de que as palavras me trouxessem involuntariamente e avassaladoramente pra mais perto desse sentimento atrevido que ando tendo por você, já era! A sorte foi lançada. Á essa hora, também, o brigadeiro já tá no ponto certo pra ser devorado entre uma colherada e outra bem aqui do meu lado, na doce ilusão – literalmente – de que esses vômitos literários que costumo expelir me tragam algum resultado ou solução para as minhas paranóias e complicações emocionais (como nunca trouxeram), que não seja o meu ego inflado em alguns casos relendo inúmeras vezes a ‘obra’ que fui capaz de redigir. Bom, ao menos a minha auto-estima esse exercício da mente consegue ressaltar.
Sabe que eu não sei como é que eu fui deixar isso acontecer? Eu até que tava conseguindo, sabe-se lá como, me apaixonar outra vez. Mas apaixonar mesmo, deixando entrar em cena aquele friozinho na barriga, a insegurança ao falar; essas coisas bobas e tão gostosas que caracterizam o florescer da paixão. Mas acho que ainda era feto, semente que não se desenvolveu, tampouco desabrochou. Vai ver que não resistiu às milhas e milhas distantes que o avião levou temporariamente pra longe e que em troca me trouxeram uma situação inenarrável – por mais que agora eu esteja aqui tentando contá-la.
Protagonizando: o cara! Pele clara, voz aveludada e de bom tom, um nariz empinado e pontiagudo que exprime a dose exata de delicadeza para um rosto masculino, e que assenta tão bem com os olhos que ainda não sei se são verdes ou azuis porque eles sempre me hipnotizam quando estão fixos e de encontro aos meus. Ah, o seu olhar... Não bastassem as íris claras, as sobrancelhas arqueadas com aquele contorno que nunca é certo numa face masculina dão uma graça a mais ao rosto que tanto me fascina. Jamais poderia me esquecer de lembrar também da barba que é praticamente um ímã para as minhas mãos, e lábios, e nuca, e costas, e lábios outra vez, e todo o corpo. Esses pelos que pra mim são fundamentais em um homem, nele esbanjam beleza. Sensualidade. E em mim, desejo.
Pois é, meu bem, já pode se pronunciar e bater no peito orgulhoso por se reconhecer como o dono das características mencionadas logo ai, porque é de você mesmo que eu falo. E falo com fervor! Com vontade. Porque é assim que tenho ficado, ainda que receosamente, quando o assunto se volta pra ti. E isso me assusta, viu. Temo essa sensação que meu peito por hora experimenta. Não sei bem se é só desejo. Se é encanto por teu jeito moleque; menino inocente ainda que de corpo crescido, ou se o pior tá mesmo acontecendo e a paixão resolveu de novo me visitar depois dessa espécie de aborto espontâneo que sofri após sua chegada – em relação àquele outro projeto de sentimento que quis começar a palpitar por essas terras aqui de dentro. Aí eu te peço: se minhas suspeitas se confirmarem, fala pra mim que não! Não em hipótese alguma. Sei lá, me mostra algum defeito seu que me faça não querer nem por decreto sua respiração ofegante próxima a minha boca. Me trate com frieza, com descaso se for o caso, e me ignore também. Me decepcione, seja grosso, estúpido, faça com que eu me desiluda totalmente dessa figura que me cativou em progressão geométrica pra que eu não mais sinta a necessidade dessa sua barba roçando na minha nuca enquanto você dorme me abraçando com a mão sobre a minha cintura. Não precisa ser verdadeiro nem precisa ser você porque eu também não acredito que seria, mas sei lá, por um instante só. Tenta, inventa! Só não continue sendo esse homem que tem ganhado parte dos meus dias em pensamentos e recordações, falas reprimidas, e olhares perdidos e distantes dentro de casa e mais do que atentos em meio às ruas da cidade na esperança de te ver no shopping, no trânsito ou na próxima avenida que eu venha a cruzar. Só não continue me encantando nessa velocidade exponencial porque meu tombo pode ser grande, e se continuar desse jeito, ele logo virá a dividir a cena com o meu desconcerto que às vezes é tão grande na sua presença. Só não continue sendo diante dos meus olhos nus esse homem dócil que adormece sobre os meus braços como uma criança inocente que mal sabe dos perigos dessa vida. Simples assim, só não continue. Deixe que o único doce permitido a participar da minha rotina seja esse mesmo brigadeiro que agora já está pela metade enquanto te lembro e nos lembro. Mas que não seja você. Você que vem se mostrando tão prazeroso quanto essas colheradas que na segunda-feira só me trarão arrependimento.
E quanto prazer! Um dos grandes responsáveis pelos flashes que já disse serem cada vez mais freqüente na minha rotina atualmente entediante dominada pelo ócio das férias. É só eu fechar os olhos que logo me surgem os seus quando pesa seu corpo sobre mim; eles se cerram, quase se fecham inteiramente, entregues à satisfação que compartilhamos e proporcionamos aos nossos corpos: nus, suados, exalando além dos nossos fluidos, a complacência que é destaque em nosso tato, no nosso toque. Me enche de tesão poder ver seus espasmos mais íntimos e sinceros, sua rendição a mim que naquele momento, ao menos, te possuo. Me delicio ao te ver de pernas trêmulas, gemendo, e às vezes contendo a respiração que parece difícil sair em meio a essa explosão de hormônios que correm aí dentro. Me deleito com essa imagem e ponho um sorriso malicioso na boca. E na boca ponho tudo o que você quiser.
            Á essa hora eu já nem me importo mais com o meu prazer porque o seu já transcendeu em mim. E quando ele passa você continua a me estimular com sua inaptidão a qualquer tipo de resposta que te possa ser cobrada; mínima que for, porque nos minutos seguintes você não consegue levantar um dedo sequer. É essa malemolência que me satisfaz; o que me contempla é esse momento sublime entre nós dois: saber que fui eu quem te causou essa turbulência de sensações maravilhosas.
 Missão cumprida.
            Mas já não tenho mais tanta convicção de que isto me basta. De que seu prazer é suficiente pra me manter à sua disposição toda semana, embora eu queira que isto não se cesse, é óbvio. (...) Soa um tanto quanto contraditório pra quem se põe em minha frente e vê essa renúncia que faço a uma possível paixão. Logo eu que tenho dito a quem quiser ouvir que meu único receio é de nunca mais me apaixonar louca e perdidamente por alguém. Entretanto, as circunstâncias dessa aventura não me deixaram criar asas pra voar e explorar esse sentimento de toda maneira que me coubesse. Seria tortura, masoquismo – uma experiência suicida. E esse tipo eu já conheço e não quero relembrar, tampouco reviver. Deixo que nas minhas memórias restem apenas os sorrisos que você me deu, os prazeres que me ofereceu, a minha loucura que me permitiu te conhecer e todas as associações que serão inevitáveis.
Ainda não sei como seremos nessa vida. Se voltaremos a nos ver, se nossa – até então – última vez me servirá de reticências para os próximos dias, se a esperança vai me consumir, se vou me negar a prosseguir, ou se a você vou me render. Isso só quem vai poder dizer são as surpresas que a vida nos reserva, que tanto existem que se comprovam com o que já nos proporcionaram até hoje. Minha vontade era logo por um ponto final nessa angústia de não saber se ainda posso esperar uma ligação sua, mas acho que minha paciência não foi testada o suficiente e talvez por isso eu ainda deva roer algumas unhas, comer compulsivamente, voltar às suas fotos, reler essas palavras e ouvir algumas músicas que me faça te ter de volta em pensamentos até que alguma nova constatação me coloque diante de uma postura fixa em relação a você, seja pra ficar ou pra, de uma vez por todas, entender que você na minha vida foi apenas um flash, uma estrela das mais brilhantes que passou por esse meu céu avermelhado e pulsante envolto de artérias e muitos sentimentos retidos. Por enquanto eu me despeço e hoje fico só com o meu brigadeiro, pois, por mais que ele ainda possa me trazer algum prejuízo, ao coração, pelo menos, sei que me fará bem e este eu preciso recuperar.