Cara, e se eu estiver gostando
mesmo de você? Que é que a gente vai fazer disso? Dessa minha vontade absurda
de te querer por muito mais que duas horas e um orgasmo. Dessa minha ansiedade
de ter que esperar a semana passar pra eu poder te ver de novo. Dessa minha
necessidade de ter seus olhos poderosos sugando qualquer restante do meu
controle quando estou perto de você. Dessa minha fascinação pelo seu sorriso
que a mim soa tão ingênuo e pueril. Dessa câmera fotográfica milimétrica na
qual meus olhos se transformam ao registrar cada detalhe marcado no teu corpo;
suas pintinhas tão delicadas, no rosto, do lado direito, um pouco acima dos
pelos magnéticos da tua barba; e não só ali, mas também em todos os outros
cantos escondidos da sua pele clara que me fazem sentir privilegiada em poder
saber que elas estão ali. Que é que a gente vai fazer disso? Das suas mãos que
se prendem à minha cintura e dos seus dedos que me fazem contorcer o quanto
posso. Dos seus gemidos de prazer enquanto te sinto por toda extensão que minha
língua permite. E da sua retribuição não menos prazerosa. Que é que a gente vai
fazer das mensagens trocadas com uma malícia que não sobressai o meu carinho? E
das vezes em que você quiser dormir sobre o meu braço que torno imóvel pra que você
não acorde. Dos seus pés branquinhos e tão bem cuidados que eu sempre quero
massagear na tentativa de aliviar com toda vontade um pouco do seu cansaço de
todo dia. E dos meus dedos que se perdem em meio aos seus cabelos curtos
querendo nunca mais voltar. Que é que a gente vai fazer desse meu medo terrível
de me apaixonar perdidamente por você? De me por a prova dos meus próprios monstros em
troca da liberdade do meu coração. Que é? Que é que a gente vai fazer? Dessa minha
compulsão pela sua voz. Dessa minha veneração pela tua beleza. Dessa minha
adoração pela tua barba que arrepia todos os meus poros quando vai de encontro à
minha nuca. E até da sua barriga que eu adoro que não seja malhada. Que é que
eu vou fazer pra acabar com essa desconfiança do que eu sinto? Que é que eu vou
fazer pra exterminar todos os indícios de resistência á você? Ainda que seja
pra eu quebrar a cara e o coração outra vez; ainda que seja por você. Que seja
só por você. Você que tomou o lugar de tantos altos, e loiros, e sarados, e estúpidos,
e de outros bilhões que poderiam me habitar. Você que eu escolhi pra ocupar esse
lugar vazio há tanto tempo – se é mesmo que isso se escolhe. Você que ganhou esse
espaço em tudo que é meu e que agora não me deixa mais só, tampouco livre das
lembranças diárias. A vaga é sua, meu bem, e como promovido à minha paixão, está
encarregado de decidir a próxima cena desse nosso espetáculo ainda sem roteiro
a ser dirigido. A final de contas, que é, então, que a gente vai fazer disso?

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