Escrevo, pois tenho a sensação de que essa é a única maneira de me colocar mais perto de você e de tudo aquilo que por um dia eu tive como eternidade, mas que se foi tão rápido como quando veio, e hoje é o que peço desesperadamente que volte para me fazer sentir outra vez as mínimas sensações, próprias de cada encontro que era tão similar a todos os anteriores, mas ao mesmo tempo tão únicos como se estivéssemos vivendo cada detalhe um do outro pela primeira vez. Sua experiência me acalmava na calada da noite e me dava a certeza de que presa em seus braços eu estaria protegida de qualquer maldade que pudesse me cercar. Com o tempo, vendo como decorreu nosso envolvimento, mesmo sabendo da superficialidade com a qual você enchia a boca para me fazer acreditar nas suas promessas válidas por não mais que uma madrugada, queria me convencer de que o que eu vivia ao seu lado se tornaria – aos poucos – amor.
Há algo de misterioso em você que não consigo desvendar e é essa incógnita que me deixa cair na rotina sempre imprevisível dos seus beijos e seus amassos. Talvez o brilho da sua barba loira que quando crescida faz arrepiar cada poro da minha pele só por nela encostar, tenha se aliado aos seus olhos de gato, dominadores de cada milímetro do meu corpo que a esta altura, desnudo, só pede pelo seu e, em conjunto, armaram um plano contra minha espontaneidade na sua presença e tiveram como resultado a inércia que sou ao seu lado. É ridiculamente assim que me sinto toda vez que me aproximo do jato de sedução que vejo em você: anestesiada. Não sei pensar por mim e tropeço nas palavras em cada tentativa de dizer algo que eu, quando sozinha, me encorajo em dizer, mas sempre que meu discurso te encontra, se choca e, se dissolve na submissão com a qual te encaro e não hesito em mostrar para quem quiser enxergar.
Não gosto de te ver assim, longe, enquanto eu fico na obrigatoriedade de me ater do outro lado da rua, da cidade, da vida – no qual você não está – como prova de resistência, amor próprio, e tentando te mostrar que “Tá vendo?! Eu sei sobreviver sem você.”, enquanto na verdade, estou de fato perdida em meus pensamentos e nas mil possibilidades que minha cabeça confusa e sem respostas insiste em me enlouquecer a cada nova suposição. Uma mulher diferente, mais uma festa, outro corpo e mais um copo, as mãos por entre outros fios longos, lisos ou ondulados, loiros ou castanhos, novos objetivos e mudança de interesses. Por onde anda você nessas estradas cidade à fora, nesses caminhos que me distanciam cada vez mais da volta da minha felicidade, momentânea, mas intensa e sincera? Deixo que o destino cumpra o papel de me responder todas as dúvidas que você me traz e tento, na calmaria que sempre me acompanha, manter meus passos estáveis frente à você que nunca é.
Se estou apaixonada? NÃO. E nego quantas vezes me perguntarem e concluírem por si só mesmo diante da minha resposta contrária ao que se vê. Não posso, não devo, não é o melhor pra mim. No kit que você me traria caso isso acontecesse, ganharia apenas a saudade em um fluxo cada vez maior, a falta de reciprocidade nas demonstrações afetivas que me deixariam incrédula da sua felicidade, e uma constante falação repetindo que homem bonito só sabe dar dor de cabeça e, eu assistindo o jogo todo de camarote, teria de confirmar. Ah, e é claro que jamais deixaria de citar que quando a sorte se virasse contra mim, o primeiro sinal de que eu deveria ao máximo ter evitado que qualquer transtorno amoroso se alastrasse em meu coração seria o ‘belo’ presente com o qual você enfeitaria minha cabeça. Por essas e outras, prefiro dizer que o que sinto é saudade, assim, descompromissada, conveniente, carnal – que me faz querer te devorar e te infiltrar por inteiro, e te marcar no meu pescoço, e me marcar nas suas costas – racional e periódica, que quando se vai é quando você vem, e me acalma, e me afaga, e me satisfaz, e me preenche, e me entontece, e que quando vem, é quando você se vai, e me dilacera, e me contesta, e me aflige, e me enraivece, e me entristece, deixando sempre essa angústia sedenta, essa vontade de flash-back, fazendo com que eu permaneça assim como tenho estado em momentos parecidos com... agora!

Lindo texto, amei (:
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