sábado, 24 de dezembro de 2011

Em branco


     Então é Natal. E quando menos esperarmos, ano novo também – época de se refazer interior e exteriormente. Comprar um vestido branco pra ver se dessa vez ele traz mesmo a paz que garantia, calcinha e sutiã vermelhos pra não faltar amor no ano que se aproxima, pintar as unhas, retocar as raízes, deixar em dia a depilação e a hidratação no cabelo pros dias de festas e fazer a auto-estima tocar o céu. É dia de ver como o ano passou rápido, quantas pessoas diferentes passaram pela sua vida, somar o quanto você riu a todas as vezes que chorou, analisar o resultado final e avaliar o que valeu mesmo a pena. Se houve um superávit na conta das vivências, ótimo; no que depender de você, tudo tende a ser cada vez melhor a partir do dia seguinte, mas se um sinalzinho de menos vier logo á esquerda do fim dos cálculos, há motivos pra preocupação e a primeira reação a se tomar não é uma das mais inusitadas. Promessas de novas dietas, mais dedicação nos estudos, mais academia e menos doces, preferir os ouvidos a boca, temer menos e viver mais – entretanto, sem confiar tão cedo no cara que disse ter esperado por alguém como você por toda a vida, porque ele vai te mostrar seus reais interesses assim que você ensiná-lo o caminho que desabotoa o botão da sua calça e desfaz o laço da sua blusa – e no fim, o que vai acontecer é que muito provavelmente faltaremos com todas as juras feitas na hora de ouvir o estouro dos foguetes e a contagem regressiva pro ano que vem vindo novinho em folha, branco como um sulfite, que é pra escrevermos nele o roteiro já planejado antes do dia primeiro. Nada imprevisível.
     Eu, particularmente, não gosto desses dias finais do mês em que todos parecem se amar de um jeito nunca feito antes, ser solidários e irmãos de todos. E os outros onze do calendário não contam? Digam que sou insensível, ou que não dou valor aos meus queridos, enfim, pensem o que quiserem, porque a sensação de angústia que tenho sempre que se aproxima o dia vinte e os seguintes, não vai embora assim tão fácil. As lembranças que me acompanham nessa época não são as mais saudáveis e tudo me remete àquilo que se eu pudesse escolher, viveria apenas nos meus últimos suspiros em vida: conversas decisivas e derradeiras que me fizeram sofrer ao longo do próximo ano (inteiro), sustos e acidentes inesperados em casa, provas que superavam seus índices de chatice e cansaço a cada uma que era feita, e meu ânimo pra que algo de bom acontecesse escorrendo pelo ralo. De joelhos e mãos ao céu, agradeço. Acabou!
     Agora, com um passo a mais me lanço desse precipício – substantivo que encontrei pra encarar o ano que vem chegando ao fim – e dou de cara com o incerto, porque o roteiro vivido até então se despede: a menoridade, a vida programada, as pessoas esperadas diariamente, os compromissos sabidos pela tarde, o coletivismo em meio às aulas, e provas, e recuperações, e trotes, e piadas, e discórdias, e concorrências, e ensino médio. A vida agora é outra: faculdade, trabalho, novos horários, gente desconhecida, oportunidades inéditas, possíveis amores. Recomeço de cara limpa, peito aberto decidido a encarar o que vier e alma nova pedindo aos ponteiros quando tocarem o ponto mais alto do relógio, que formem uma barreira contra tudo o que a mim foi um empecilho nos últimos trezentos e sessenta e cinco dias, pois ainda que lá pra março ou abril tudo pareça ter voltado a ser como era antes, ainda não morreu em mim – e talvez em ninguém – a velha esperança de que no ano que vem as coisas serão melhores.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Vem!


     Hoje reservei minha madrugada pra ti. Tô aqui em plena sexta-feira a noite, começando às onze pra ser mais específica, teclando com os esmaltes descascados e uma dor no pé que não sei de onde veio, parecendo uma otária iludida por um cara como você. Mas antes de qualquer coisa, relaxa, porque essa ilusão já passou e faz tempo. Não vou te ligar perguntando onde você tá, nem se eu ainda vou te ver algum dia, porque agora eu sei que vou. Seu tipo eu já consigo reconhecer em qualquer outro de vinte e poucos anos que se aproxime de mim armado com meia dúzia de palavras educadas e um gosto impecável nas roupas que veste – fator que, por sinal, é meu ponto fraco. Estou alerta a essa espécie masculina que ataca e devora suas presas sem dó e de um jeito tão hipnotizante que, por mais imoral que possa ser visto por alguns, só me faz querer ser seu prato principal por mais uma, duas e quantas vezes forem preciso.
     Meu, tu é foda! E encare isso como uma qualidade das mais poderosas que um homem pode ter. Que me xinguem as feministas, mas tu é. Não tenho como negar e abaixo a cabeça, sim, pro teu jogo de sedução que ainda me faz cair de quatro, embora eu saiba exatamente como você vai tentar ganhar o pão do dia que, pela noite, será eu mesma sem ninguém que ameace seus esquemas das altas horas. Sei lá como posso tentar explicar o quão ‘fudido’ tu é, aliás, por estar em um dos mais altos patamares dessa categoria, provavelmente sabe melhor que eu da sua excelência. Ganha na marra, com um comportamento peculiar que eu prefiro nem imaginar quantas mulheres já somou em uma lista provavelmente feita alguma vez na vida (porque os homens têm necessidade da matemática nessas horas: números são mais relevantes do que intensidade – juro que ainda quero entender o motivo pra precisar de tanta diversidade). Bom pra você, e indiretamente pra mim também que sou beneficiada de acordo com as suas experiências adquiridas. E não me julguem, nem critiquem, nem repugnem, nem me abulam por eu parecer tão dependente e submissa de um corpo humano. Não o sou. Apenas jogo com as mesmas cartas que põem na minha mesa. E gosto. É algo parecido com aquilo que chamam de defesa pessoal em um tipo de luta que desconheço o nome, mas que no meu caso, têm primeiro e segundo bem conhecidos. Talvez por isso a necessidade de tantas precauções. Famoso e convidativo até pela maneira como trata uma mulher nas conversas mais cotidianas possíveis, é também perigoso e chamativo como aquelas placas que sinalizam obras nas ruas e pisos molhados, ou banners que noticiem a vacina contra um vírus perigoso – ambos com o intuito de prevenir qualquer eventualidade que possa implicar em algum acidente ou doença, graves ou não. De qualquer forma, a intenção é logo avisar os possíveis riscos para que compromissos posteriores não sejam de sua inteira (ir)responsabilidade. Se for assim, pode vir que eu já estou vacinada e meus anticorpus cumpriram seus devidos papéis; agora estou ilesa de qualquer contratempo. Então vem!
     Vem que eu quero outra vez te encontrar e dar aos nossos corpos tudo o que eles nos cobram com aquilo que só os próprios podem nos oferecer e nos satisfazer; portanto não temos escapatória, senão a união que é tão bela entre um homem e uma mulher – sem pudores, nem estranhamentos, nem qualquer tipo de receio. Vem que eu quero o que em você é nativo, e em mim é invejado por acompanharem-te a todos os lugares em que seus pés tão bonitinhos pisam, e suas pernas que parecem ter sido esculpidas por algum ser apaixonado que me fizesse apaixonada por elas também, caminhem, e seus dedos e suas mãos que me pegam com tanta firmeza antes de me deixarem toda mole, apalpe. Vem que eu quero também poder ver suas expressões nesse rosto tão lindo onde as combinações gênicas não falharam em um único detalhe sequer; de alegria, de preocupação, de prazer, de sono, de quem foi dominado pelo álcool ou por algum entorpecente que te fizesse sair de si por alguns minutos. Vem que eu quero sentir seus cheiros naturais, da sua pele mesmo, sem camuflá-los por trás de perfumes comercializados por pura vaidade. Do suor no fim do dia, do hálito provindo da cerveja e do cigarro que passaram pela sua boca, do cabelo que quando você acorda fica todo bagunçado e ainda não foram vítimas dos xampus, géis e sprays que burlam o aroma que é característica sua. Vem que eu quero sentir suas secreções pela minha pele, sua saliva umedecendo meu corpo já molhado pelo seu toque onde sou sensível, junto de qualquer sinal que seu corpo expila e me mostre o prazer que você sente naquela hora. Vem que eu quero sentir o gosto de você por inteiro. Teu sal, teu insosso, teu amargo, quero saber o sabor do teu veneno que me anestesia. Vem que eu quero protestar contra todos aqueles que não admitem a atração pelo íntimo do outro e rotulam como algo nojento, ou sujo, ou proibido essa vontade tão natural de quem quer se infiltrar de todas as maneiras cabíveis no corpo que te faz companhia nos melhores momentos da vida. Porque eles mentem e enganam o próprio querer: do tato, do contato, da sensibilidade de tocar e ser tocado, corrompidos por uma sociedade preconceituosa e antiquada de mentes pequenas que, ainda no século vinte e um, tentam maquiar uma realidade que é bela por si só – nua. Vem, porque não existe sujeira onde a química reina mesmo que pela carne, e porque se nada do que digo fosse tão instintivo e natural o quanto de fato é, a humanidade não existiria. Então, vem que a gente mostra a todos eles que pecado é deixar de viver os melhores presentes que podemos proporcionar uns aos outros, a quem desejamos com tanta intensidade, por toda a vida e quantas vezes quisermos. Vem!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O processo do desamor

Capítulo I: A nostalgia e a certeza do meu amor.


     É que eu tenho vivido bastante tempo contigo por esses dias, sabe. Daí essa disposição para escrever o que me consome nesse exato momento: você. Não, ainda não tô louca e sei que nessas horas você deve tá aí, bem de frente a TV assistindo algum tipo de luta que te remeta aos seus tempos de também lutador, ou ainda encarando a tela do computador ouvindo alguma daquelas músicas que o seu gosto um tanto quanto peculiar repelia os que estavam em volta, porque as batidas escolhidas chegavam a ser irritantes. Enquanto isso eu fico daqui, a uma distância consideravelmente grande da sua casa que não conheci além do portão de entrada, e idem você o da minha. E comigo a chuva mais uma vez, aliás, é engraçado como ela insiste em chegar sempre que te sinto aqui, bem do meu lado. Algo a atrai e eu até gosto. Melancolia às vezes é bom. Tenho me sentido tão sozinha que ela provavelmente veio para ser minha melhor companhia em um fim de semana tão estagnado quanto anda a minha vida ultimamente. Assim tenho tempo para pensar e deixar que as lágrimas imitem o movimento das gotas lá fora e escorram sobre minha pele enquanto releio nosso passado que hoje é póstumo ao menos para ti. E é exatamente assim, por meio dessas letrinhas canhotas e redondas que sempre aparecem no papel quando você aflora em mim, que eu comprovo que te amo: passando meus olhos chorosos pelos relatos do meu pretérito perfeito que, escrito, testemunha meus últimos anos de devoção a você. E olha que eu nunca disse a ninguém um sentimento com tamanha propriedade: amor. Demorei a aceitar e às vezes ainda não sei compreendê-lo, mas tá aqui dentro e não duvido que ele tenha mesmo o nome que o dei, só não sei como descrever. Vai ver que é o tal do feeling: acontece, a gente sente, tem certeza e dispensa as demais provas – sentimentais ou científicas.


Capítulo II: A dependência e o sofrimento solitário.


     Eu tinha você como necessidade; e era de tanta coisa que me custou processar o que se passava nesse coração que foi tantas vezes atropelado pela loucura que é sentir amor. Primeiramente, quando minha razão ainda representava em mim alguma porcentagem considerável, era necessário esquecer – os cafés da manhã num horário de quase almoço, os risos porque algum amigo fizera graça, as tardes enjaulados dentro de casa porque a chuva não dava trégua – e por um ponto final no capítulo mais próximo desse romance nada romântico. Acabar de vez com o sofrimento. Em seguida, a necessidade era da carne, do tato, não importam as condições em que viessem. Depois necessitei absurdamente da sua palavra, sua resposta para o meu ‘boa noite’ que eu te dava com tanto afeto, e recebia de volta tão frígido, e também de um pouco mais de sensibilidade no seu olhar que tentava fugir do meu sempre que nos cruzávamos. Necessitei também da distância para me reencontrar e te organizar em mim antes que você me tomasse por inteiro. Cheguei tarde. Tão atrasada que já não me era possível fazer mais nada senão necessitar de apenas uma coisa a mais: compreender; que você estava feliz, que o nosso tempo não era esse, que eu deveria ao menos tentar ficar em paz mesmo que devagar e sem metade de mim, porque essa parte está(va) em suas mãos.


Capítulo III: A percepção da liberdade após o final infeliz.


     Mas acho que mudei. É, eu sei que deve ser difícil de acreditar e às vezes eu nem demonstre tal fato, mas confie: é verdade. Ao menos tenho tentado, eu juro. Não que meu amor tenha emagrecido, perdido medidas antes incalculáveis. Acho que ainda é cedo pra tanta radicalização, mas são minhas auto-consultas analíticas que têm surtido um efeito bem mais positivo do que as minhas expectativas. Amém. Minha cama é meu divã, e os fones nos ouvidos, o psicólogo. Sem mais nenhum artefato, dou início à sessão e chego a conclusões antes invisíveis, tamanha cegueira que me conduzia. E tem dado certo. Tanto que indico o medicamento receitado pela auto-análise. Apenas deixe-se, permita-se. Os dias virão e as novas pessoas também, ainda que a princípio seja somente pra cobrir um pouco do buraco que ficou vago no coração devido á partida alheia. Viver ao invés de esperar todos os dias por uma mensagem sua na minha caixa de e-mail, no celular, ou na internet, é a única solução pra fazer com que os meus dias passem menos arrastados e muito mais interessantes. Penso em mim, no que me faz bem da maneira que for. Vou à academia cuidar do corpo que é meu antes de mais ninguém, experimento roupas novas, faço as unhas, testo maquiagens inéditas, saio com as minhas amigas pra respirar e tentar encontrar uma saída desse túnel, o qual parece não ter luz no fim, converso sobre o que me propõem, e acima de tudo, escrevo. Sobre como estou, sobre minhas mudanças repentinas de idéia, humor e sentimentos, que inclusive, agora só me fazem pensar que quem perdeu, meu bem, não fui eu!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Agridoce


     Ficas tão bem de cinza. Já me acostumei a ver-te na cor que pareces tanto gostar, mas prefiro quando tiro a malha do teu peito e colo ele junto ao meu que tu também preferes nu. E eu não faço questão de relutar. Deixo que me mostre toda a habilidade em desabotoar o sutiã meia taça que visto e fico apenas a admirar tua vontade em tão logo me ter em ti – sem conversas, ensaios ou pseudo demonstrações sentimentais que bem sabemos inexistentes. Nossa conexão é completa. Da altura, dos beijos, do propósito. De qualquer forma, apenas nos encaixamos – em únicos, duplos ou triplos sentidos. E é bom assim. Prazeroso e engrandecedor pras minhas próprias experiências com o sexo (oposto). E te gosto, e te quero, e te desejo, e te imploro com meus olhos brilhosos e fixos ao teu olhar castanho claro, esmagador dos meus flertes pelo auxílio das sobrancelhas delineadas que desarmam meu menor sinal de timidez ameaçador em se exaltar. Assim me dominas. Estou inerte. Sou submissa. Apenas sigo teus comandos. E se rebato é pra que sintas também a minha vontade de te ter, e te beijar, e te apertar, e te morder, e te arranhar, e te lamber, e tu gozar, e eu te soltar, e me conter, e tu adormecer.
     Tu ficaste ali. Parado e imóvel a alguns poucos centímetros distante de mim, desmaiado num sono dos mais profundos que já vi até hoje. Não se incomodava nem mesmo com a falta do travesseiro que certamente poderia dar-te um pouco mais de conforto depois das horas trabalhadas. Se virava como podia por entre o edredom branco enrolado pelo corpo e, deitado de lado, dormia como um anjo. E que vontade de abraçar, de acolher em meus braços todos os pedaços teus que coubessem em mim. Encaixar tuas costas lisas nos meus seios que acabavam de ser só teus, usar minhas mãos e minhas unhas compridas que tocaram todos os pontos da tua pele só pra acariciar-te e fazê-las viajarem por teus braços cicatrizados, sentindo ao mesmo tempo os teus músculos que por ali são tão palpáveis. Passar meus lábios sedentos pela tua temperatura que a mim é tão necessária, por entre os espaços mais escondidos e íntimos de ti, e minha língua pela tua orelha, pelas tuas coxas, por teu peito, tua barriga; sentir todo o teu gosto e deixar-te arrepiado com um desejo imenso de me fazer sentir prazer outra vez. Bagunçar um pouquinho da tua louridão ainda embutida na pele inteira bronzeada, através da minha força em puxar os teus pelos dourados e acompanhar meus olhos vidrados em ti até a outra extremidade do teu corpo maravilhoso, babando por uma pintinha tão delicada na lateral interior do pé esquerdo. Mas preferi ficar parada, tão estátua quanto a ti que só movimentava, a cada nova inspiração, os pulmões talvez até um pouco gastos pelo cigarro. Zelei teu dormir e, quieta, fiz uma retrospectiva de tudo o que fui sorteada a viver.
     Teu cheiro másculo depois de um banho que me fizera derreter em satisfação aromatizava o quarto e insaciava agora os meus pulmões que, nas respirações cada vez mais profundas, tentavam se expandir pra qualquer canto possível querendo que tu coubesses inteiro dentro de mim. Senti. Por dois ou três minutos, senti o perfume do teu corpo pregado no meu. Senti por uma noite o maior prazer que já me deste. Senti-me capaz de dar-te prazer e te fazer gozar da vida e na vida. Senti-me crescida, madura pela convivência contigo. Senti vontade de ir embora. E fui. Por hora sem querer voltar, porque ali estava tudo errado apesar da tua dedicação de sempre em ser perfeito. Tu não fora nem de longe o homem do qual eu precisava, ainda mais sabendo do suposto ‘perigo’ que poderia encontrar no meio do teu trajeto de me levar até o quarto – embora essas preliminares de mera apresentação jamais tenham sido parte do nosso roteiro habitualmente carnal. E talvez por isso é que teve tanta pressa de mim. Insegurança. Seria? Cogitei. Sobretudo, naquele momento era a minha necessidade: ter motivos pra ficar e não querer sair correndo repentinamente atrás da voz que eu, aflita e presa entre quatro desconhecidas paredes, podia escutar com tanta nitidez do outro lado da janela branca. Chorei. Saí e te quis fora do meu corpo, da minha cabeça e de qualquer resquício meu quando dali eu partisse. Falhei. Venceste. Viajaste comigo por toda a estrada de volta à vida rotineira em cada flash rememorado com afinco. Na verdade ainda estás aqui, porque adocico cada partícula da nossa fusão sempre surpresa. Não te odeio nem mesmo se motivos para isso eu tivesse, e talvez tenha, mas não. No que depender de mim, tua paz e teu bem serão por todos os dias teus fiéis escudeiros e te protegerão das insanidades que às vezes cometes sabe-se lá o porquê. De tudo que me possa ser oferecido, só quero o de sempre: a maneira como me conheces e bem sabes administrar. Sem mais açúcar nos dizeres ou limão nos afazeres. Agridoce. Assim os dois opostos são bem mais atraentes. E nós dois também.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Meu decreto ao desapego


     Só vim pra avisar que não é por inteiro – ainda – mas acho que estou te dizendo adeus. Comemore. Solte foguetes. Dê uma festa, porque daqui eu pretendo fazer o mesmo. E não se preocupe; já me dei o trabalho de organizar tudo o que a mim é necessário: dei fim no seu álbum que fui fazendo a cada nova foto vista, não suo frio mais quando você chega, nem fico com a boca seca quando me cumprimenta, não sinto mais o coração pular quando te vejo depois de semanas de abstinência, e já nem tenho mais tanta convicção sobre aquilo que chegou a ser absoluto.
     Sei lá o que é que aconteceu, mas perdi. Primeiro você, depois o encanto que me fez louca por ti durante esse tempo todo. Meu cansaço por ter trabalhado tanto em vão, talvez seja uma justificativa no mínimo plausível para a ocasião. E que os anjos, e os deuses, e os astros em coro digam amém. E que o universo conspire a favor, e que os ventos soprem pra essa nova direção cada vez com mais velocidade, e que nada me traga a vontade de voltar.
     O amor fica, mas se transforma. O desejo de ser fiel, amar-te e respeitar-te na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, por todos os dias das nossas vidas, agora vem a ser apenas recordação: do meu primeiro toque, do meu primeiro gosto, da minha primeira sensação de tesão, e sobretudo, do meu primeiro amor. Ficam também suas lições que na marra tive de tentar decifrar e aprender. Parabenizo-te pela complexidade que comporta.
     Assino embaixo do teu acordo que já fora tantas vezes a mim proposto e desacorrento-me de ti. Tento. Com fé e vontade. No fim das contas acho que saquei que a gente não combina mesmo, sabe. É visível que não concordo com seus vários momentos grosseiros e nem você com os meus muitos liberais. Deixa como está, que assim não volta. E que prevaleçam as coisas boas que realmente valeram a pena. “Tudo vale a pena se a alma não é pequena.”