sábado, 17 de dezembro de 2011

Vem!


     Hoje reservei minha madrugada pra ti. Tô aqui em plena sexta-feira a noite, começando às onze pra ser mais específica, teclando com os esmaltes descascados e uma dor no pé que não sei de onde veio, parecendo uma otária iludida por um cara como você. Mas antes de qualquer coisa, relaxa, porque essa ilusão já passou e faz tempo. Não vou te ligar perguntando onde você tá, nem se eu ainda vou te ver algum dia, porque agora eu sei que vou. Seu tipo eu já consigo reconhecer em qualquer outro de vinte e poucos anos que se aproxime de mim armado com meia dúzia de palavras educadas e um gosto impecável nas roupas que veste – fator que, por sinal, é meu ponto fraco. Estou alerta a essa espécie masculina que ataca e devora suas presas sem dó e de um jeito tão hipnotizante que, por mais imoral que possa ser visto por alguns, só me faz querer ser seu prato principal por mais uma, duas e quantas vezes forem preciso.
     Meu, tu é foda! E encare isso como uma qualidade das mais poderosas que um homem pode ter. Que me xinguem as feministas, mas tu é. Não tenho como negar e abaixo a cabeça, sim, pro teu jogo de sedução que ainda me faz cair de quatro, embora eu saiba exatamente como você vai tentar ganhar o pão do dia que, pela noite, será eu mesma sem ninguém que ameace seus esquemas das altas horas. Sei lá como posso tentar explicar o quão ‘fudido’ tu é, aliás, por estar em um dos mais altos patamares dessa categoria, provavelmente sabe melhor que eu da sua excelência. Ganha na marra, com um comportamento peculiar que eu prefiro nem imaginar quantas mulheres já somou em uma lista provavelmente feita alguma vez na vida (porque os homens têm necessidade da matemática nessas horas: números são mais relevantes do que intensidade – juro que ainda quero entender o motivo pra precisar de tanta diversidade). Bom pra você, e indiretamente pra mim também que sou beneficiada de acordo com as suas experiências adquiridas. E não me julguem, nem critiquem, nem repugnem, nem me abulam por eu parecer tão dependente e submissa de um corpo humano. Não o sou. Apenas jogo com as mesmas cartas que põem na minha mesa. E gosto. É algo parecido com aquilo que chamam de defesa pessoal em um tipo de luta que desconheço o nome, mas que no meu caso, têm primeiro e segundo bem conhecidos. Talvez por isso a necessidade de tantas precauções. Famoso e convidativo até pela maneira como trata uma mulher nas conversas mais cotidianas possíveis, é também perigoso e chamativo como aquelas placas que sinalizam obras nas ruas e pisos molhados, ou banners que noticiem a vacina contra um vírus perigoso – ambos com o intuito de prevenir qualquer eventualidade que possa implicar em algum acidente ou doença, graves ou não. De qualquer forma, a intenção é logo avisar os possíveis riscos para que compromissos posteriores não sejam de sua inteira (ir)responsabilidade. Se for assim, pode vir que eu já estou vacinada e meus anticorpus cumpriram seus devidos papéis; agora estou ilesa de qualquer contratempo. Então vem!
     Vem que eu quero outra vez te encontrar e dar aos nossos corpos tudo o que eles nos cobram com aquilo que só os próprios podem nos oferecer e nos satisfazer; portanto não temos escapatória, senão a união que é tão bela entre um homem e uma mulher – sem pudores, nem estranhamentos, nem qualquer tipo de receio. Vem que eu quero o que em você é nativo, e em mim é invejado por acompanharem-te a todos os lugares em que seus pés tão bonitinhos pisam, e suas pernas que parecem ter sido esculpidas por algum ser apaixonado que me fizesse apaixonada por elas também, caminhem, e seus dedos e suas mãos que me pegam com tanta firmeza antes de me deixarem toda mole, apalpe. Vem que eu quero também poder ver suas expressões nesse rosto tão lindo onde as combinações gênicas não falharam em um único detalhe sequer; de alegria, de preocupação, de prazer, de sono, de quem foi dominado pelo álcool ou por algum entorpecente que te fizesse sair de si por alguns minutos. Vem que eu quero sentir seus cheiros naturais, da sua pele mesmo, sem camuflá-los por trás de perfumes comercializados por pura vaidade. Do suor no fim do dia, do hálito provindo da cerveja e do cigarro que passaram pela sua boca, do cabelo que quando você acorda fica todo bagunçado e ainda não foram vítimas dos xampus, géis e sprays que burlam o aroma que é característica sua. Vem que eu quero sentir suas secreções pela minha pele, sua saliva umedecendo meu corpo já molhado pelo seu toque onde sou sensível, junto de qualquer sinal que seu corpo expila e me mostre o prazer que você sente naquela hora. Vem que eu quero sentir o gosto de você por inteiro. Teu sal, teu insosso, teu amargo, quero saber o sabor do teu veneno que me anestesia. Vem que eu quero protestar contra todos aqueles que não admitem a atração pelo íntimo do outro e rotulam como algo nojento, ou sujo, ou proibido essa vontade tão natural de quem quer se infiltrar de todas as maneiras cabíveis no corpo que te faz companhia nos melhores momentos da vida. Porque eles mentem e enganam o próprio querer: do tato, do contato, da sensibilidade de tocar e ser tocado, corrompidos por uma sociedade preconceituosa e antiquada de mentes pequenas que, ainda no século vinte e um, tentam maquiar uma realidade que é bela por si só – nua. Vem, porque não existe sujeira onde a química reina mesmo que pela carne, e porque se nada do que digo fosse tão instintivo e natural o quanto de fato é, a humanidade não existiria. Então, vem que a gente mostra a todos eles que pecado é deixar de viver os melhores presentes que podemos proporcionar uns aos outros, a quem desejamos com tanta intensidade, por toda a vida e quantas vezes quisermos. Vem!

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