terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Agridoce


     Ficas tão bem de cinza. Já me acostumei a ver-te na cor que pareces tanto gostar, mas prefiro quando tiro a malha do teu peito e colo ele junto ao meu que tu também preferes nu. E eu não faço questão de relutar. Deixo que me mostre toda a habilidade em desabotoar o sutiã meia taça que visto e fico apenas a admirar tua vontade em tão logo me ter em ti – sem conversas, ensaios ou pseudo demonstrações sentimentais que bem sabemos inexistentes. Nossa conexão é completa. Da altura, dos beijos, do propósito. De qualquer forma, apenas nos encaixamos – em únicos, duplos ou triplos sentidos. E é bom assim. Prazeroso e engrandecedor pras minhas próprias experiências com o sexo (oposto). E te gosto, e te quero, e te desejo, e te imploro com meus olhos brilhosos e fixos ao teu olhar castanho claro, esmagador dos meus flertes pelo auxílio das sobrancelhas delineadas que desarmam meu menor sinal de timidez ameaçador em se exaltar. Assim me dominas. Estou inerte. Sou submissa. Apenas sigo teus comandos. E se rebato é pra que sintas também a minha vontade de te ter, e te beijar, e te apertar, e te morder, e te arranhar, e te lamber, e tu gozar, e eu te soltar, e me conter, e tu adormecer.
     Tu ficaste ali. Parado e imóvel a alguns poucos centímetros distante de mim, desmaiado num sono dos mais profundos que já vi até hoje. Não se incomodava nem mesmo com a falta do travesseiro que certamente poderia dar-te um pouco mais de conforto depois das horas trabalhadas. Se virava como podia por entre o edredom branco enrolado pelo corpo e, deitado de lado, dormia como um anjo. E que vontade de abraçar, de acolher em meus braços todos os pedaços teus que coubessem em mim. Encaixar tuas costas lisas nos meus seios que acabavam de ser só teus, usar minhas mãos e minhas unhas compridas que tocaram todos os pontos da tua pele só pra acariciar-te e fazê-las viajarem por teus braços cicatrizados, sentindo ao mesmo tempo os teus músculos que por ali são tão palpáveis. Passar meus lábios sedentos pela tua temperatura que a mim é tão necessária, por entre os espaços mais escondidos e íntimos de ti, e minha língua pela tua orelha, pelas tuas coxas, por teu peito, tua barriga; sentir todo o teu gosto e deixar-te arrepiado com um desejo imenso de me fazer sentir prazer outra vez. Bagunçar um pouquinho da tua louridão ainda embutida na pele inteira bronzeada, através da minha força em puxar os teus pelos dourados e acompanhar meus olhos vidrados em ti até a outra extremidade do teu corpo maravilhoso, babando por uma pintinha tão delicada na lateral interior do pé esquerdo. Mas preferi ficar parada, tão estátua quanto a ti que só movimentava, a cada nova inspiração, os pulmões talvez até um pouco gastos pelo cigarro. Zelei teu dormir e, quieta, fiz uma retrospectiva de tudo o que fui sorteada a viver.
     Teu cheiro másculo depois de um banho que me fizera derreter em satisfação aromatizava o quarto e insaciava agora os meus pulmões que, nas respirações cada vez mais profundas, tentavam se expandir pra qualquer canto possível querendo que tu coubesses inteiro dentro de mim. Senti. Por dois ou três minutos, senti o perfume do teu corpo pregado no meu. Senti por uma noite o maior prazer que já me deste. Senti-me capaz de dar-te prazer e te fazer gozar da vida e na vida. Senti-me crescida, madura pela convivência contigo. Senti vontade de ir embora. E fui. Por hora sem querer voltar, porque ali estava tudo errado apesar da tua dedicação de sempre em ser perfeito. Tu não fora nem de longe o homem do qual eu precisava, ainda mais sabendo do suposto ‘perigo’ que poderia encontrar no meio do teu trajeto de me levar até o quarto – embora essas preliminares de mera apresentação jamais tenham sido parte do nosso roteiro habitualmente carnal. E talvez por isso é que teve tanta pressa de mim. Insegurança. Seria? Cogitei. Sobretudo, naquele momento era a minha necessidade: ter motivos pra ficar e não querer sair correndo repentinamente atrás da voz que eu, aflita e presa entre quatro desconhecidas paredes, podia escutar com tanta nitidez do outro lado da janela branca. Chorei. Saí e te quis fora do meu corpo, da minha cabeça e de qualquer resquício meu quando dali eu partisse. Falhei. Venceste. Viajaste comigo por toda a estrada de volta à vida rotineira em cada flash rememorado com afinco. Na verdade ainda estás aqui, porque adocico cada partícula da nossa fusão sempre surpresa. Não te odeio nem mesmo se motivos para isso eu tivesse, e talvez tenha, mas não. No que depender de mim, tua paz e teu bem serão por todos os dias teus fiéis escudeiros e te protegerão das insanidades que às vezes cometes sabe-se lá o porquê. De tudo que me possa ser oferecido, só quero o de sempre: a maneira como me conheces e bem sabes administrar. Sem mais açúcar nos dizeres ou limão nos afazeres. Agridoce. Assim os dois opostos são bem mais atraentes. E nós dois também.

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