Capítulo I: A nostalgia e a certeza do meu amor.
É que eu tenho vivido bastante tempo contigo por esses dias, sabe. Daí essa disposição para escrever o que me consome nesse exato momento: você. Não, ainda não tô louca e sei que nessas horas você deve tá aí, bem de frente a TV assistindo algum tipo de luta que te remeta aos seus tempos de também lutador, ou ainda encarando a tela do computador ouvindo alguma daquelas músicas que o seu gosto um tanto quanto peculiar repelia os que estavam em volta, porque as batidas escolhidas chegavam a ser irritantes. Enquanto isso eu fico daqui, a uma distância consideravelmente grande da sua casa que não conheci além do portão de entrada, e idem você o da minha. E comigo a chuva mais uma vez, aliás, é engraçado como ela insiste em chegar sempre que te sinto aqui, bem do meu lado. Algo a atrai e eu até gosto. Melancolia às vezes é bom. Tenho me sentido tão sozinha que ela provavelmente veio para ser minha melhor companhia em um fim de semana tão estagnado quanto anda a minha vida ultimamente. Assim tenho tempo para pensar e deixar que as lágrimas imitem o movimento das gotas lá fora e escorram sobre minha pele enquanto releio nosso passado que hoje é póstumo ao menos para ti. E é exatamente assim, por meio dessas letrinhas canhotas e redondas que sempre aparecem no papel quando você aflora em mim, que eu comprovo que te amo: passando meus olhos chorosos pelos relatos do meu pretérito perfeito que, escrito, testemunha meus últimos anos de devoção a você. E olha que eu nunca disse a ninguém um sentimento com tamanha propriedade: amor. Demorei a aceitar e às vezes ainda não sei compreendê-lo, mas tá aqui dentro e não duvido que ele tenha mesmo o nome que o dei, só não sei como descrever. Vai ver que é o tal do feeling: acontece, a gente sente, tem certeza e dispensa as demais provas – sentimentais ou científicas.
Capítulo II: A dependência e o sofrimento solitário.
Eu tinha você como necessidade; e era de tanta coisa que me custou processar o que se passava nesse coração que foi tantas vezes atropelado pela loucura que é sentir amor. Primeiramente, quando minha razão ainda representava em mim alguma porcentagem considerável, era necessário esquecer – os cafés da manhã num horário de quase almoço, os risos porque algum amigo fizera graça, as tardes enjaulados dentro de casa porque a chuva não dava trégua – e por um ponto final no capítulo mais próximo desse romance nada romântico. Acabar de vez com o sofrimento. Em seguida, a necessidade era da carne, do tato, não importam as condições em que viessem. Depois necessitei absurdamente da sua palavra, sua resposta para o meu ‘boa noite’ que eu te dava com tanto afeto, e recebia de volta tão frígido, e também de um pouco mais de sensibilidade no seu olhar que tentava fugir do meu sempre que nos cruzávamos. Necessitei também da distância para me reencontrar e te organizar em mim antes que você me tomasse por inteiro. Cheguei tarde. Tão atrasada que já não me era possível fazer mais nada senão necessitar de apenas uma coisa a mais: compreender; que você estava feliz, que o nosso tempo não era esse, que eu deveria ao menos tentar ficar em paz mesmo que devagar e sem metade de mim, porque essa parte está(va) em suas mãos.
Capítulo III: A percepção da liberdade após o final infeliz.
Mas acho que mudei. É, eu sei que deve ser difícil de acreditar e às vezes eu nem demonstre tal fato, mas confie: é verdade. Ao menos tenho tentado, eu juro. Não que meu amor tenha emagrecido, perdido medidas antes incalculáveis. Acho que ainda é cedo pra tanta radicalização, mas são minhas auto-consultas analíticas que têm surtido um efeito bem mais positivo do que as minhas expectativas. Amém. Minha cama é meu divã, e os fones nos ouvidos, o psicólogo. Sem mais nenhum artefato, dou início à sessão e chego a conclusões antes invisíveis, tamanha cegueira que me conduzia. E tem dado certo. Tanto que indico o medicamento receitado pela auto-análise. Apenas deixe-se, permita-se. Os dias virão e as novas pessoas também, ainda que a princípio seja somente pra cobrir um pouco do buraco que ficou vago no coração devido á partida alheia. Viver ao invés de esperar todos os dias por uma mensagem sua na minha caixa de e-mail, no celular, ou na internet, é a única solução pra fazer com que os meus dias passem menos arrastados e muito mais interessantes. Penso em mim, no que me faz bem da maneira que for. Vou à academia cuidar do corpo que é meu antes de mais ninguém, experimento roupas novas, faço as unhas, testo maquiagens inéditas, saio com as minhas amigas pra respirar e tentar encontrar uma saída desse túnel, o qual parece não ter luz no fim, converso sobre o que me propõem, e acima de tudo, escrevo. Sobre como estou, sobre minhas mudanças repentinas de idéia, humor e sentimentos, que inclusive, agora só me fazem pensar que quem perdeu, meu bem, não fui eu!



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