Amor, amor. É mesmo surpreendente tamanha certeza do que se
sente sem nenhuma explicação que comprove esse habitante fixo dos corações.
Sabe-se de sua presença apenas pela grandeza de amar. Sem auxílios nem motivos.
Razões inexistem. Ah, o amor... quando vem, nega passagem pra qualquer outro
flerte que não seja aquele único que aquece de tal maneira que chega a corar as
bochechas dos mais acanhados. E quando vem, é exibido sem resquícios de
moderação no sorriso largo estampado na cara dos apaixonados. E quando vem, não
esconde os poros e pelos de todo o corpo ouriçados pelo toque do outro na pele
dos mais ousados. E quando vem, fere mais do que chamas vívidas o peito de quem
sofre por não ter por perto o abraço que poderia poupá-lo de tanta dor. E
quando vem, vira de cabeça pra baixo o mundo dos intensos que se entregam de
todas as formas que conseguem a esse sentimento que transforma a vida. E que não
pergunta. Não pede licença. Se auto afirma e que se cuidem aqueles que resolvem
afrontá-lo. Estes compram não só uma briga, mas uma guerra inteira com a maior
inimiga de toda permissividade que defende o amor: a explicação. E repito que
não há porquês dentro da loucura de amar. Ele existe e independe do corpo
escultural, da voz sedutora, do beijo que faz desaparecer o fôlego, das
palavras bonitas, dos poemas românticos, das declarações públicas de afeto e do
sexo que queima as calorias que uma hora de esteira não seria capaz. Estas são
só consequências. Quem procura as raízes desse sentimento, o faz em vão. É que nunca
se sabe exatamente quando foi que ele nasceu. Se foi logo no primeiro beijo ou
depois de uma discussão que tinha tudo pra ser irreversível. É um processo contínuo,
dormente, que se arma inteiro até estar resistente o suficiente para dar o
bote. E só ai, então, é que se dá conta de que ele vive. Quando já está ali.
Plantado. Maduro. Trancafiado entre as artérias e pulsando no ritmo das batidas
vitais. E ninguém consegue movê-lo. É sedentário no peito nômade de quem o teme
e por isso foge. Mas o amor é paciente. Enxerga além de tudo que o afasta de
seu verdadeiro lar e espera. Espera o tempo com o tempo e pelo tempo – a bússola
sem direção dessa viagem. Espera o tempo passar, espera o tempo chegar. Espera com
uma paciência incompreensível de quem já não mais se afeta pela demora. É a desesperança
alimentada pela própria esperança. É a crença naquilo que já perdeu todos os
indícios de credibilidade. Mas ainda assim é crível. Por quê? Porque é amor. E
amor não se explica, apenas se sente. Sente-se e espere que ele virá. Doce como
chocolate quente em dias chuvosos de carência e sentimento aflorado. Inconseqüente,
metendo os pés pelas mãos em cada tentativa de acertar. Azedo, contaminado pela
pressão incessante de um mundo capitalista. Voraz, com pressa de viver uma história
intensa em meio a tantos corações descartáveis – corra, antes que este também
se vá pela lixeira detrás da porta! Complicado, recheado de obstáculos-testes
que ponham á prova o sentimento alheio. Ardente. Ciumento. Doentio. Dependente.
Livre. A maneira não importa; ele virá. E quando isso acontecer, evite os diagnósticos.
O amor é subjetivo demais pra ser metodizado, por isso, não defina nem limite a
expressão mais bela de todo ser que é vivo e ama. Alie-se por mais uma vez ao
tempo, pois ele sim é o único capaz de destrinchar e acalmar todas as turbulências
que o amor provoca. E por fim, compreenda. Já disse Fernando Pessoa que “tudo o
que chega, chega sempre por alguma razão.” Ninguém melhor do que esse
sentimento louco e revolucionário para oferecer a cada coração o instigante
desafio de tentar desvendá-lo enquanto em vida estivermos.
sábado, 21 de julho de 2012
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Peito aberto. Cabeça limpa. Alma lavada.
É essa dúvida que me agoniza. É por não ter a resposta de que tanto preciso, o motivo da angústia que me tomou, e ela só não me faz roer as unhas porque nunca fui adepta desse vício que nada soluciona. E tudo se resolveria com uma confirmação. Simples. Positiva ou não, era a resposta exata que me poria de volta à vida ou então me afogaria ainda mais em mim mesma. E em você. Sempre você que mesmo não sabendo, penso, ainda comanda a entrada de qualquer um do sexo masculino que queira se aproximar desse meu coração já empoeirado, porque aqueles que nem sequer se igualam à sua excelência não são mesmo dignos de me habitar.
Puta que o pariu! Onde é que eu estava com a cabeça quando te dei a liberdade de me tomar por inteiro sem ao menos um questionamento, á princípio, fazer? Também não sei e a procuro ainda com falsas esperanças de encontrá-la perdida por aí. Talvez eu tenha mais sucesso na busca partindo do lugar onde tudo nasceu; onde nos encontramos e eu, então, comecei a me perder. Mas no chão, embaixo da cama que foi onde ficou sua camisa naquele dia, eu não vejo nada. Em cima, em meio aos edredons emaranhados sobre o lençol, idem. Nada pelo chão, nem pelos degraus da piscina, nem mesmo próximo aos bancos que repousavam a preguiça coletiva. Os corredores estão vazios e também não há rastros sobre a mesa da cozinha ou a da varanda que ao menos por duas vezes nos fazia vistos durante o dia.
Sem bons resultados, desisti. E ela, meses depois, foi quem aos poucos começou a me perseguir. Feito zumbi. Fantasma que me fez ver gradativamente as sombras desse problema. Você ainda é meu maior problema. É o que me aprisiona, o obstáculo que me atém a cada novo passo em busca de progresso que tento dar. Progresso esse que por todas as vezes falha. Tento, tento, e mesmo que a cada dia mais distante, você ainda me aparece; zumbi mesmo, não há outra descrição mais próxima da minha realidade. Tá tudo bem, tá tudo certo quando me vem sem mais nem menos uma tempestade torrencial de você, de nós. E te confesso que este fardo eu já não sei mais como carregar. Desde que abandonei essa idéia racionalmente ilusória de querer uma profilaxia pra doença que você plantou em mim – e talvez eu nunca devesse ter assumido essa loucura – tenho constatado que vez em quando é melhor deixar que os impulsos sejam contidos pelo bom senso, pela razão da vida porque assim a gente se poupa de tudo que pode vir a ser sofrimento, possíveis até de alcançar o ridículo. Porque cheguei também a me ridicularizar por você. Tanto, que quando você estava ali ao meu lado, entretanto abrigando por hora o corpo de uma outra a quem escolheu por falta de opção – e tempo – dei continuidade á sua tarefa de tapar os meus próprios olhos e te quis bem, te preparei um suco, alguma coisa leve, não me lembro o quê – tudo em prol do seu estômago que aí dentro urrava e te doía. Talvez eu devesse mesmo ter te deixado sentir a queimação incomodando, quem sabe assim você comprovaria na pele a mesma repugnância que eu sempre engoli goela abaixo e que naquele momento se repetia, tomada pelo nojo de vocês dois.
Com ela ali frente a nós, sobrando em meio a tanto desconcerto e coadjuvando nosso desconforto, o qual enfeitou por alguns poucos longos minutos o quarto em que você dormia, você parecia sentir pena de mim, e suas tentativas compassivas de me fazer cega diante dos fatos escancarados embaixo do meu nariz foram ainda mais patéticas. Espera ela sair da sala e vem pro meu quarto. Ah, por favor, hein. E eu, burra – é, burra – até achei legal da sua parte naquele momento, querer me evitar maiores decepções. Me resumia em migalhas, no seu resto, no seu pó. E tenho náuseas só de lembrar que cheguei a acolher o meu lençol que você, provavelmente num momento fora de si pra cometer tamanha falta de respeito, pegou da minha cama pra forrar seu gozo nutrido apenas por saturação, egoísmo e necessidade de por pra fora aquilo você queria comigo, mas que não teve porque ao menos uma vez na vida te foi cobrada a decência para com uma mulher.
Desprezível. É isso que você deveria ser na minha rotina, mas me escravizei por tanto tempo pelos seus maus tratos – que espero terem sido apenas inconscientes –, que acho que me acostumei com o castigo de gostar de você. Estou mesmo condenada a pagar a pena eterna desse amor sem uma força mínima que me ajude a recorrer, que dirá ser absolvida. E é mesmo um castigo você na minha vida. Me cansa, me esgota e me faz idiota. Uma passível dos mais elevados níveis. Na verdade, acho que nem palavras a esta altura conseguem traduzir o quão pequena e menosprezada me sinto por ainda te dar a relevância que você em dia algum mereceu. Embora enraivecida, indignada, inconformada, e intolerante eu esteja exatamente agora, me atrevo ainda a dizer que não te quero mais. Mesmo estremecida totalmente, dos meus pés trinta e seis ao meu último fio de cabelo dourado, quando te vejo e surpreendentemente, por ti sou ignorada. Mesmo quando você fala comigo e eu concordo com todos os seus pontos finais do nosso discurso quase sempre indireto, porque sei serem em vão todas as minhas tentativas de te convencer de qualquer contrário. Mesmo quando te vejo feliz e tenho plena consciência de que deste seu estado emocional eu não fui participativa em um único suspiro sequer. Mesmo que. Mesmo assim. Mesmo quando. Mesmo sem. Mesmo agora. Mesmo não sabendo por quantos dias mais esse sufoco vai se estender.
A tal dúvida que deu início á esse cuspe na sua cara já não é mais tão derradeira para a minha própria paz. Primeiramente porque sei exatamente o que acontece no seu campo de batalha nesse momento, e não sou tão desalmada a ponto de me ver como o centro do universo enquanto outra gravidade sobressai meu sentimentalismo. Também em razão do futuro não tão distante que me aguarda repleto de nova gente. E ainda pelo seu comportamento pueril, indigno do restante da minha paciência com a qual você, sem moderação alguma, se esbaldou o quanto pode. Além de você por inteiro, não queria também que sua curiosidade que sei ser grande, te trouxesse até aqui fazendo com que você lesse o que desabafo agora, porque não tenho a pretensão, por mais nem uma vez, que você se dê o luxo de ver que ainda te cogito, que te escrevo, te penso. Nem que você saiba que ainda não é tão indiferente na minha vida, embora pessoalmente isso seja tudo que eu tento mostrar e, impressionantemente, é também o que venho conseguindo alcançar – minha neutralidade com e sem o seu contato.
Você me apodreceu, me fez desacreditar de todas as coisas boas que um dia já pensei existir na vida de quem nos deixamos amar. E brotou em mim o medo. Tenho medo de entregar em mãos a minha felicidade pra qualquer nova pessoa e por mais uma vez me decepcionar. Por isso, talvez, é que permaneço na tortura de recuar e agüentar sempre sozinha as toneladas de conseqüências que, descansando sobre minhas costas, se mostram monstruosas em quantidade, densidade e aderência. Nunca fui exageradamente religiosa, mas finalmente, Deus. A única explicação para que tal vitória grandiosa, diga-se de passagem, ocorresse. Se mostrou indubitavelmente mais do que justo e presente na minha vida submissa e devota a quem sequer um dia santo foi – quiçá seria e também nunca será – quando me fez de uma vez por todas perceber que você não vale a pena. Que nunca valeu. Apenas o que me sobra agora é dó de quem ainda se rende e se prende a essa armadilha camuflada em meio aos dentes bonitos que enchem uma boca descompromissada e inconfiável – por mais irônico e duvidoso que isso possa parecer para alguns e algumas. Somos agora dois desconhecidos. Dos mais íntimos que, paradoxalmente, podem existir. E sabe do quê mais? Tô preferindo que seja assim. Uma vez que nos decepcionamos tão ferozmente assim, não há memória do passado, por mais bela e impecável que seja, capaz de sustentar a decadência de uma admiração jogada no lixo – ainda mais pelo seu próprio dono.
domingo, 29 de janeiro de 2012
"Preciso demais desabafar"
Não cheguem perto. Pelo menos por esses dias, não, assim com certeza será melhor pra mim e pra quem pelas redondezas estiver. E olha que eu nem tô de TPM, hein. Aliás, isso não me pertence, mas algum parente meio torto e de sintomas parecidos com o dela, resolveu por hora aparecer e se apossar desse corpo que carrego. Tudo me irrita, nada me agrada, tampouco anda me satisfazendo. A cidade não colabora, mas o tédio em contrapartida, não me faz esquecer por um minuto sequer da sua presença impiedosamente assídua no meu dia a dia. Férias? Pelo andar dos fatos preferiria que elas já tivessem me dado adeus há dias, semanas talvez. Mudaria a ordem das coisas: pegaria no batente o quanto antes. Na faculdade pra matar de vez a curiosidade que me aguça tanto sobre o curso que pretendo seguir fielmente, no inglês pra acabar definitivamente com esse sofrimento prolongado por nada menos que seis anos, no espanhol pra que ao menos uma vez na semana eu tenha meus risos garantidos por duas horas, e nas possíveis e futuras atividades remuneradas, porque quem sabe assim eu dependa um pouco menos dos meus progenitores quando não tenho a mínima vontade de dar satisfação da finalidade do dinheiro que, com tanto receio, os peço. E em troca, pediria folga das pessoas. De umas que me cansam, das outras que me dão enjôo, daquelas que ridiculamente me ignoram. Dos fúteis, improdutivos, supérfluos e desnecessários. Irritantes – ao menos a mim.
Quero mesmo é sentir os ares desse ano que, de novo, ainda não conseguir avistar um único dia. Tá tudo igual, tudo na mesma. Talvez eu precise mesmo é da rotina pra me convencer de que não sou mais o ano que há quase um mês se despediu da humanidade. Se for assim, que venham então os meus dias programados esbanjando novas responsabilidades e ocupações úteis à minha cabeça que anda cansada da mesmice, à minha cabeça que ainda não passou do trinta e um de dezembro, à minha cabeça que insiste em se ligar como um ímã em pessoas que de dois mil e onze não deveriam sair. Namorado eu não sei o que é, nunca foi minha prioridade saber, mas talvez eu esteja sentindo pela primeira vez a necessidade de um. Um que me diga, olhando nos meus olhos, que sou mais do que a carcaça que os meros moleques anteriores viam, pois por mais homem que cada um deles se julgasse, nunca passaram de meninos em uma fase indefinida posterior á puberdade; fase que, indubitavelmente, não merece tão precocemente o título de ‘homem’. Algum que não recrimine a minha obsessão pela liberdade que é indispensável na vida de qualquer pessoa, porque antes de casal e dois, todos eram únicos e sós. Qualquer um que não me queira pra gozar os problemas do trabalho, o ego mal massageado pela amada que o rejeita, ou os hormônios a tempo de explodir o corpo que habitam se não forem o quanto antes expelidos.
Mas essa minha personalidade esférica me condena e põe por água abaixo todos os planos e diálogos que minuciosamente preparo em mente. Posso ter sido mal educada aqui, grossa ali, indiferente acolá, e o motivo certamente foi algum desses que me cutucam provocadores. Se não um, todos eles. Não sei ser direta o quanto preciso, e dessa forma evito conflitos com todos que me rodeiam pra deixar que o circo todo se arme aqui dentro – espetáculo privado. Penso demais e sozinha, e as conclusões as quais alcanço, são sempre hipotéticas. Libriana, sempre me ponho em dúvida, e me perco ainda mais nesse labirinto de possibilidades e cogitações, mas nunca certezas. Sofro pela indecisão, por deixar que tudo passe sobre mim, não falo e me castigo. Parece feitiço, um desses que nem um banho com todas as superstições existentes consegue desfazer. E apenas quando o tempo fecha e a chuva se metamorfoseia nas lágrimas que escorrem habilmente minhas bochechas, e fazem o contorno certeiro do meu queixo até descerem de encontro ao meu pescoço, é que transponho em minha face tudo aquilo que minha boca se nega a balbuciar. Falar nunca foi meu forte. Quem quiser me entender, que me decifre, que me sinta, me leia, mas não me fale, não enquanto palavras tivermos.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
Ao eterno estranhamento entre os dois sexos
A que mulher, afinal, buscam os homens? Me deparo frequentemente com episódios nauseantes acerca dos pré requisitos que hoje em dia os machos julgam indispensáveis naquelas que cogitam ser suas damas. E pra ser sincera os incompreendo. Não sei o que toma conta da cabeça masculina e a faz ser tão primitiva por diversas vezes ainda no terceiro milênio. Primitivismo esse que dá raiva. E muita. Contra argumento do tipo “mas eu posso porque sou homem” ou “isso não é coisa que mulher se faz” é decisivo pra minha birra, e na raiva, a vontade que prevalece é a oposta do que desejam os marmanjos embora esta seja unicamente pra contrariar, fazer pirraça mesmo, e mostrá-los que não somos assim tão dependentes de suas aprovações e de seus pacotes quase sempre incompletos.
Talvez a independência que nós, mulheres, viemos construindo por séculos é uma das pulguinhas que tanto comicha o ego absolutista dos dotados de testosterona. Em um passado significativamente distante, estávamos á mercê de quase todas as suas vontades. Pra sair, usar certa roupa, dirigir, entre outros atos que a sociedade nos escondia. Passado. Mas não caiu ainda em suas mentes – nos casos mais graves, retrógradas – a idéia de que tal regime, atualmente apenas psicológico, perdeu seu trono há tempos, e que a mesma palavra agora só designa no universo feminino um bem que fazemos em prol do nosso corpo e vaidade quando pensamos ser necessário. Pois é, darlings, deu pane no sistema, ou melhor, naquilo que vocês projetaram com tantas tentativas perfeccionistas: nós. Fugimos da receita, perdemos a forma pra desenhar a nossa própria, a nosso gosto e moderação, a qual vem sendo diminuída a cada dia com maior intensidade porque a vontade de se satisfazer é preferência entre nós, e por isso independe dos rótulos atribuídos devido ás ditaduras e pensamentos machistas, queiram vocês ou não, estamos na pista.
Não dá pra negar que estamos, sim, sujeitas a mediocridade implantada na cabeça e nas atitudes de alguns que esteriotipam dada mulher pelo que de primeiro conseguem nela avistar. Tanto que algumas ainda têm coragem de condizer com seus enamorados quando e onde os hormônios loucos do rapaz dela precisarem. No cardápio temos como exemplo a bonequinha. Essa é a menina recatada, delicadinha, meiguinha, magrinha, pequenininha, educadinha, e vem com ela o bônus de todos os -inhas que o dicionário oferecer. Ela é do tipo que falta do encontro marcado há dias com as amigas pra dar espaço ao rapaz mimado que não aceita jantar outra coisa senão aquilo que só a única sabe fazer. Esquece-se de si mesma pra agradar ao outro. É indicada àqueles que costumam mal dizer de todas as moçoilas da cidade porque sabem que têm em casa o seu enfeite pra estante da sala, o troféu a ser exibido aos amigos trogloditas: a impecável que nunca os decepcionam, e o preço a se pagar, meus caros, é que elas também nunca vão surpreendê-los – nem para o mal, menos ainda para o bem. Conformem-se. E vocês, mocinhas, serão mesmo por toda a vida apenas o bichinho de estimação do seu talvez amor, porque ao pisar na rua, ele olhará sim pra todas as bundas que em sua frente passarem e as desejará com a mesma fome de quem está há meses de jejum. Cabe a vocês tomarem partido da situação e se posicionarem de acordo com o que se fazem valer: uma mulher ou uma estatueta?
Em contrapartida aos bibelôs estão as famosas periguetes. Estas não deixam que seus machos as exponham porque elas fazem isso por si só. E da pior maneira possível: a mais vulgar que conseguem ser. Seja exibindo a (pouca) roupa que vestem, ou pelo jeito exagerado como mascam um chiclete e trocam algumas palavras com os homens – porque os prováveis assuntos são incapazes de fazer fluir uma boa conversa; falta conteúdo –. Isso basta pra que seja percebido logo de cara a que vieram: não conseguem estar perto sem tocar, falar sem gritar, e seduzir sem escancaradamente incitar. Em suma, interesseiras, são uma boa escolha aos one night stand já que seus intuitos não são assim tão distintos dos deles. Talvez essas até mereçam o título que carregam porque não sabem no mínimo se colocar em seus papéis de mulheres ao invés de objeto. Ônus da espécie: homens, esqueçam as várias boas oportunidades que poderiam surgir com moças que valem mesmo a pena quando resolverem passar as mãos pelos pêlos oxigenados das pernas da dita cuja. Vocês acabaram de perder muitos pontos, valiosos por sinal, com as promissoras.
E pra finalizar destaco as bem resolvidas, donas da minha plena admiração. São aquelas que xingam e riem sem se preocupar com a opinião alheia. Valorizam o corpo que têm e não se vendem por um carro importado ou um restaurante caríssimo. Não se negam. São prioridades de si próprias. E se a vontade for de transar num primeiro encontro, que assim seja. Elas sabem que nenhuma das atitudes tomadas põe em questão seu caráter, tampouco sua personalidade porque quem de fato as conhece, sabe também que passar vontade é uma sensação que nunca esteve presente em seus dias – desde que a tentação da vez não as permita que se desfaçam dos valores que conduzem. Quanto aos outros, eles são só os outros e não somam em nada na primeira suposta má impressão que podem cultivar em seus pensamentos limitados; tais quais aqueles que a sociedade, com tanta firmeza, impõe acerca das donzelas. Estas são destinadas apenas aos ousados, livres, desbravadores e independentes, porque assim elas também são. Têm seus próprios compromissos e não se resumem basicamente na vida do parceiro que, se as quiserem mesmo ao seu lado, terão de dedicar-se ao máximo em fazê-las felizes, porque á elas não faltarão pretendentes a cada esquina virada já que a auto-estima e confiança, que são suas melhores amigas, fazem resplandecer ainda mais a beleza que carregam consigo diariamente.
As diversidades femininas são inúmeras, e essas são apenas algumas das infindáveis categorias que eles provavelmente nomeiam ao ver uma mulher passar, mas o fato é que não importa o nome dado a cada uma das ‘tribos’. Eles nunca estarão satisfeitos com o que oferecemos. Vai faltar algo. Se não for bunda será peito, porque o resto tanto faz – ao menos aos olhos cegos para o interior, mas demasiadamente nítidos a tudo que se reverte ao sexo – e infelizmente esses representam a maioria. E se vierem em excesso também haverá reclamações porque seus atributos altamente generosos te fazem parecer vulgar. Caso esteja tudo em dia com o físico, prepare-se para ser alvejada no comportamento e também nas idéias. Sua possível solução para o problema da violência contra a mulher, ou ainda a maneira totalmente por eles maliciada de como você cruza sensualmente as pernas – por instinto, porque mulher gosta mesmo de seduzir a todos e não só àqueles por quem os inseguros se sentem ameaçados – afinal, é difícil de aceitar pensamentos tão modernos e um comportamento totalmente oposto à marionete que sempre os obedecia. Sempre haverá aquilo que se não for motivo suficiente pra ser considerado um defeito, eles o tornarão, simplesmente porque nem os próprios sabem exatamente a que procuram e por isso empurram às belas seus dilemas. Sinto lhes informar, mas pacote completo vocês nunca terão, e de uma vez por todas queiram aceitar a dita realidade, queridos, afinal, nunca se pode exigir de alguém aquilo que nós também somos incapazes de oferecer. E é isso o que têm nos mostrado.
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
Mais uma constatação
Eu não queria aquela vida. Pra ser sincera eu nunca quis, mas o destino tem dessas coisas de fazer a gente pagar com os próprios atos todas as atitudes que um dia apedrejamos. E eu fui só mais uma das condenadas por não saber negar o que meu corpo pede e, consequentemente, merecer o castigo dito após contrariar minhas próprias palavras. A verdade é que cedi. Tanto que, a brincadeira começou a tomar sérias proporções e eu sequer sabia o que estava acontecendo comigo. Tola. Burra. Fácil. Inconseqüente. Sobretudo, ingênua. Ingênua por aceitar ser a segunda na vida de quem viveu tudo comigo primeiro. Ingênua a ponto de pensar que a vida voltaria a ser como na noite anterior e crer fielmente que minha resistência seria a mesma de sempre. Talvez hoje até pudesse ser, pois com os relacionamentos vindouros apliquei algumas das lições que o primogênito não titubeou ao me dar. Mas, marinheira de primeira viagem que era, apanhei de todas as maneiras possíveis como quem gosta de sofrer, masoquista, e a ele dei meu gosto por tempo demais; não mais o físico, porque esse se perdeu em uma jogada admiravelmente madura e impulsiva de ambas as partes: primeiro a minha, volúvel ainda, pela incerteza do que parecia dizer com tanta firmeza, e depois a do amado que, por um flash de compaixão se impôs – não por muito tempo já que fora devastado por seus instintos masculinos. Mas o simples fato de eu estar aqui agora depondo todo esse transtorno calejado e delicioso ao qual me submeto, já é uma prova e tanto de que ele ainda me tem. Talvez não como antes, mas ao menos nas palavras e mais forte ainda nas lembranças almofadadas, perfumadas e bem alimentadas que é pra confortavelmente se manterem aqui – pro meu bem ou pro meu mal – enquanto lúcida eu estiver. Que me desculpem todos aqueles a quem incomodo com essa overdose de amor, mas será assim enquanto eu não tiver espécie alguma de prova contrária e justificativa concreta que me impeça de cultivá-lo em mim. E só mesmo a realidade de uma segunda chance me faria por em prática a consciência de tudo que já sei: somos mesmo muito diferentes, e com todas essas disparidades seria impossível um convívio no mínimo pacífico pra qualquer tipo de felicidade. Acho que é essa a conclusão mais sensata a que cheguei durante anos tão pensativos: só me liberto desse amor quando ao meu lado ele estiver; por enquanto, então, meu coração se nega a aceitar que qualquer casualidade me separe dessa droga que me viciei conscientemente, e cujos efeitos colaterais, aos poucos, se transparecem.
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Suspirosa
E como eu queria que, a cada vez que batesse em mim com tanta brutalidade a saudade, bem como agora ela faz, a solução fosse de imediata tomada fazendo com que a dor também partisse, logo, pra longe. Sem os nossos beijos, eu viajaria no tempo e não mais carregaria o sofrimento. Sem o seu toque, pegaria as fotos e o choro se secaria. Sem os lugares, as músicas as quais eu ouviria, faria com que tudo dissesse adeus. E dessa maneira você iria embora de mim, de pedacinho em pedacinho, mas ao menos definitivamente. E eu me teria de volta, merecedora, porque, talvez eu não mais queira te dar o luxo de escutar, saindo diretamente da minha boca, a confissão desse amor que para todos é tão óbvio.
domingo, 8 de janeiro de 2012
A descoberta do verdadeiro amor: o próprio
Drummond, em algum dia teve a audácia de dizer que “a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional”. Ah, que mentira! Seja lá porque foi que ele proferiu tal insanidade, prevalece aqui a minha discórdia pelo mais simples e óbvio motivo: a própria dor já é um tipo de sofrimento, consequentemente, não há como separar tais sentimentos que por toda a vida caminharam colados. Dói um dedo cortado, um braço quebrado, uma cabeça cheia de problemas, uma palavra que não deveria ter sido dita, uma atitude que não foi tomada, e na pior das hipóteses, um coração que deveria ter sido amado. E não foi. E não adianta teimar, baby; pomadas não vão refrescar o ferimento, comprimidos não vão te fazer livre das lembranças e injeções só cutucarão ainda mais o machucado pra que você se lembre porque anda sofrendo.
Necessário mesmo é aceitar o próprio luto. Conviver com a própria dor e alimentar o sofrimento que não é demais ninguém, senão, seu – embora pareça um tanto quanto masoquista ou suicida proceder de tal maneira quando aquilo que julgam certo, seria transformar a noite na página de um livro para que, quando amanhecesse e ela fosse virada, nada mais fizesse com que a catástrofe vivida ontem, hoje voltasse. Puro engano. Mera ilusão. Precisamos mesmo é nos permitir, mergulhar e entender o que se passa dentro desse oceano ora agressivo pelos ventos que se esquecem de trazer boas vibrações, ora calmo, anestesiado pela conformidade que, dentro de nós, já se sente em casa; mesmo que pra isso, precisemos molhar por todas as noites o travesseiro que combina perfeitamente com o sal das lágrimas durante mais alguns dias ou semanas ou meses.
Como qualquer machucado – físico ou sentimental – o remédio mais eficaz ainda é o tempo, pois só com ele a cicatrização que é imprescindível no processo dessa recomposição interior, finalmente virá. A marca fica ali, não se apaga e tem lá seus motivos pra isso. É visível nos olhos que já não brilham mais com tanta intensidade, ouvida na voz que agora não treme quando se propaga, e sentida no coração que recusa se exaltar quando se tem a presença. Chega a ser impertinente, mas com tanta insistência, nos convence e aos poucos mostra ao coração recém atropelado, a que veio. A aceitação de que tudo já não é mais tão cor de rosa quanto um dia foi, é fundamental e virá parcelada de acordo com a maturidade adquirida depois dos muitos desentendimentos consigo e com o outro. E a compreensão das desavenças, no futuro vem a ser compensadora.
Não precisa se apavorar, porque essa sensação eterna de luto e solidão, um dia passa. Geralmente, quando você se olhar no espelho e vir quanto tempo foi perdido: o seu, enquanto se doou inteiramente a quem sequer percebeu tal boa ação, e pouco mais tarde, o dele, que quando menos esperar, se dará conta toda as vezes que a ver, de que o prejuízo foi unicamente o próprio. Aí, então, você estará apta a se levantar da rasteira tão baixa que lhe fora dada – linda, mas não loira – amando um outro alguém muito mais digno e merecedor de tantas regalias um dia oferecidas: você mesma. Verá também, que a partir daí, tudo começa a parecer mais fácil e acessível. E que seu cabelo parece mais brilhoso, sua pele mais lisa, seu sorriso menos obrigatório e mais espontâneo, e seu corpo muito mais desejável. Por quê? Não sei. Auto estima às vezes não tem explicação, fazendo o meu bem, já me basta. Assim tem sido.
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