quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Ao eterno estranhamento entre os dois sexos


     A que mulher, afinal, buscam os homens? Me deparo frequentemente com episódios nauseantes acerca dos pré requisitos que hoje em dia os machos julgam indispensáveis naquelas que cogitam ser suas damas. E pra ser sincera os incompreendo. Não sei o que toma conta da cabeça masculina e a faz ser tão primitiva por diversas vezes ainda no terceiro milênio. Primitivismo esse que dá raiva. E muita. Contra argumento do tipo “mas eu posso porque sou homem” ou “isso não é coisa que mulher se faz” é decisivo pra minha birra, e na raiva, a vontade que prevalece é a oposta do que desejam os marmanjos embora esta seja unicamente pra contrariar, fazer pirraça mesmo, e mostrá-los que não somos assim tão dependentes de suas aprovações e de seus pacotes quase sempre incompletos.
     Talvez a independência que nós, mulheres, viemos construindo por séculos é uma das pulguinhas que tanto comicha o ego absolutista dos dotados de testosterona. Em um passado significativamente distante, estávamos á mercê de quase todas as suas vontades. Pra sair, usar certa roupa, dirigir, entre outros atos que a sociedade nos escondia. Passado. Mas não caiu ainda em suas mentes – nos casos mais graves, retrógradas – a idéia de que tal regime, atualmente apenas psicológico, perdeu seu trono há tempos, e que a mesma palavra agora só designa no universo feminino um bem que fazemos em prol do nosso corpo e vaidade quando pensamos ser necessário. Pois é, darlings, deu pane no sistema, ou melhor, naquilo que vocês projetaram com tantas tentativas perfeccionistas: nós. Fugimos da receita, perdemos a forma pra desenhar a nossa própria, a nosso gosto e moderação, a qual vem sendo diminuída a cada dia com maior intensidade porque a vontade de se satisfazer é preferência entre nós, e por isso independe dos rótulos atribuídos devido ás ditaduras e pensamentos machistas, queiram vocês ou não, estamos na pista.
     Não dá pra negar que estamos, sim, sujeitas a mediocridade implantada na cabeça e nas atitudes de alguns que esteriotipam dada mulher pelo que de primeiro conseguem nela avistar. Tanto que algumas ainda têm coragem de condizer com seus enamorados quando e onde os hormônios loucos do rapaz dela precisarem. No cardápio temos como exemplo a bonequinha. Essa é a menina recatada, delicadinha, meiguinha, magrinha, pequenininha, educadinha, e vem com ela o bônus de todos os -inhas que o dicionário oferecer. Ela é do tipo que falta do encontro marcado há dias com as amigas pra dar espaço ao rapaz mimado que não aceita jantar outra coisa senão aquilo que só a única sabe fazer. Esquece-se de si mesma pra agradar ao outro. É indicada àqueles que costumam mal dizer de todas as moçoilas da cidade porque sabem que têm em casa o seu enfeite pra estante da sala, o troféu a ser exibido aos amigos trogloditas: a impecável que nunca os decepcionam, e o preço a se pagar, meus caros, é que elas também nunca vão surpreendê-los – nem para o mal, menos ainda para o bem. Conformem-se. E vocês, mocinhas, serão mesmo por toda a vida apenas o bichinho de estimação do seu talvez amor, porque ao pisar na rua, ele olhará sim pra todas as bundas que em sua frente passarem e as desejará com a mesma fome de quem está há meses de jejum. Cabe a vocês tomarem partido da situação e se posicionarem de acordo com o que se fazem valer: uma mulher ou uma estatueta?
     Em contrapartida aos bibelôs estão as famosas periguetes. Estas não deixam que seus machos as exponham porque elas fazem isso por si só. E da pior maneira possível: a mais vulgar que conseguem ser. Seja exibindo a (pouca) roupa que vestem, ou pelo jeito exagerado como mascam um chiclete e trocam algumas palavras com os homens – porque os prováveis assuntos são incapazes de fazer fluir uma boa conversa; falta conteúdo –. Isso basta pra que seja percebido logo de cara a que vieram: não conseguem estar perto sem tocar, falar sem gritar, e seduzir sem escancaradamente incitar. Em suma, interesseiras, são uma boa escolha aos one night stand já que seus intuitos não são assim tão distintos dos deles. Talvez essas até mereçam o título que carregam porque não sabem no mínimo se colocar em seus papéis de mulheres ao invés de objeto. Ônus da espécie: homens, esqueçam as várias boas oportunidades que poderiam surgir com moças que valem mesmo a pena quando resolverem passar as mãos pelos pêlos oxigenados das pernas da dita cuja. Vocês acabaram de perder muitos pontos, valiosos por sinal, com as promissoras.
     E pra finalizar destaco as bem resolvidas, donas da minha plena admiração. São aquelas que xingam e riem sem se preocupar com a opinião alheia. Valorizam o corpo que têm e não se vendem por um carro importado ou um restaurante caríssimo. Não se negam. São prioridades de si próprias. E se a vontade for de transar num primeiro encontro, que assim seja. Elas sabem que nenhuma das atitudes tomadas põe em questão seu caráter, tampouco sua personalidade porque quem de fato as conhece, sabe também que passar vontade é uma sensação que nunca esteve presente em seus dias – desde que a tentação da vez não as permita que se desfaçam dos valores que conduzem. Quanto aos outros, eles são só os outros e não somam em nada na primeira suposta má impressão que podem cultivar em seus pensamentos limitados; tais quais aqueles que a sociedade, com tanta firmeza, impõe acerca das donzelas. Estas são destinadas apenas aos ousados, livres, desbravadores e independentes, porque assim elas também são. Têm seus próprios compromissos e não se resumem basicamente na vida do parceiro que, se as quiserem mesmo ao seu lado, terão de dedicar-se ao máximo em fazê-las felizes, porque á elas não faltarão pretendentes a cada esquina virada já que a auto-estima e confiança, que são suas melhores amigas, fazem resplandecer ainda mais a beleza que carregam consigo diariamente.
     As diversidades femininas são inúmeras, e essas são apenas algumas das infindáveis categorias que eles provavelmente nomeiam ao ver uma mulher passar, mas o fato é que não importa o nome dado a cada uma das ‘tribos’. Eles nunca estarão satisfeitos com o que oferecemos. Vai faltar algo. Se não for bunda será peito, porque o resto tanto faz – ao menos aos olhos cegos para o interior, mas demasiadamente nítidos a tudo que se reverte ao sexo – e infelizmente esses representam a maioria. E se vierem em excesso também haverá reclamações porque seus atributos altamente generosos te fazem parecer vulgar. Caso esteja tudo em dia com o físico, prepare-se para ser alvejada no comportamento e também nas idéias. Sua possível solução para o problema da violência contra a mulher, ou ainda a maneira totalmente por eles maliciada de como você cruza sensualmente as pernas – por instinto, porque mulher gosta mesmo de seduzir a todos e não só àqueles por quem os inseguros se sentem ameaçados – afinal, é difícil de aceitar pensamentos tão modernos e um comportamento totalmente oposto à marionete que sempre os obedecia. Sempre haverá aquilo que se não for motivo suficiente pra ser considerado um defeito, eles o tornarão, simplesmente porque nem os próprios sabem exatamente a que procuram e por isso empurram às belas seus dilemas. Sinto lhes informar, mas pacote completo vocês nunca terão, e de uma vez por todas queiram aceitar a dita realidade, queridos, afinal, nunca se pode exigir de alguém aquilo que nós também somos incapazes de oferecer. E é isso o que têm nos mostrado.

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