domingo, 8 de janeiro de 2012

A descoberta do verdadeiro amor: o próprio


     Drummond, em algum dia teve a audácia de dizer que “a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional”. Ah, que mentira! Seja lá porque foi que ele proferiu tal insanidade, prevalece aqui a minha discórdia pelo mais simples e óbvio motivo: a própria dor já é um tipo de sofrimento, consequentemente, não há como separar tais sentimentos que por toda a vida caminharam colados. Dói um dedo cortado, um braço quebrado, uma cabeça cheia de problemas, uma palavra que não deveria ter sido dita, uma atitude que não foi tomada, e na pior das hipóteses, um coração que deveria ter sido amado. E não foi. E não adianta teimar, baby; pomadas não vão refrescar o ferimento, comprimidos não vão te fazer livre das lembranças e injeções só cutucarão ainda mais o machucado pra que você se lembre porque anda sofrendo.
     Necessário mesmo é aceitar o próprio luto. Conviver com a própria dor e alimentar o sofrimento que não é demais ninguém, senão, seu – embora pareça um tanto quanto masoquista ou suicida proceder de tal maneira quando aquilo que julgam certo, seria transformar a noite na página de um livro para que, quando amanhecesse e ela fosse virada, nada mais fizesse com que a catástrofe vivida ontem, hoje voltasse. Puro engano. Mera ilusão. Precisamos mesmo é nos permitir, mergulhar e entender o que se passa dentro desse oceano ora agressivo pelos ventos que se esquecem de trazer boas vibrações, ora calmo, anestesiado pela conformidade que, dentro de nós, já se sente em casa; mesmo que pra isso, precisemos molhar por todas as noites o travesseiro que combina perfeitamente com o sal das lágrimas durante mais alguns dias ou semanas ou meses.
     Como qualquer machucado – físico ou sentimental – o remédio mais eficaz ainda é o tempo, pois só com ele a cicatrização que é imprescindível no processo dessa recomposição interior, finalmente virá. A marca fica ali, não se apaga e tem lá seus motivos pra isso. É visível nos olhos que já não brilham mais com tanta intensidade, ouvida na voz que agora não treme quando se propaga, e sentida no coração que recusa se exaltar quando se tem a presença. Chega a ser impertinente, mas com tanta insistência, nos convence e aos poucos mostra ao coração recém atropelado, a que veio. A aceitação de que tudo já não é mais tão cor de rosa quanto um dia foi, é fundamental e virá parcelada de acordo com a maturidade adquirida depois dos muitos desentendimentos consigo e com o outro. E a compreensão das desavenças, no futuro vem a ser compensadora.
     Não precisa se apavorar, porque essa sensação eterna de luto e solidão, um dia passa. Geralmente, quando você se olhar no espelho e vir quanto tempo foi perdido: o seu, enquanto se doou inteiramente a quem sequer percebeu tal boa ação, e pouco mais tarde, o dele, que quando menos esperar, se dará conta toda as vezes que a ver, de que o prejuízo foi unicamente o próprio. Aí, então, você estará apta a se levantar da rasteira tão baixa que lhe fora dada – linda, mas não loira – amando um outro alguém muito mais digno e merecedor de tantas regalias um dia oferecidas: você mesma. Verá também, que a partir daí, tudo começa a parecer mais fácil e acessível. E que seu cabelo parece mais brilhoso, sua pele mais lisa, seu sorriso menos obrigatório e mais espontâneo, e seu corpo muito mais desejável. Por quê? Não sei. Auto estima às vezes não tem explicação, fazendo o meu bem, já me basta. Assim tem sido.

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