segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Que é que a gente vai fazer disso?




          Cara, e se eu estiver gostando mesmo de você? Que é que a gente vai fazer disso? Dessa minha vontade absurda de te querer por muito mais que duas horas e um orgasmo. Dessa minha ansiedade de ter que esperar a semana passar pra eu poder te ver de novo. Dessa minha necessidade de ter seus olhos poderosos sugando qualquer restante do meu controle quando estou perto de você. Dessa minha fascinação pelo seu sorriso que a mim soa tão ingênuo e pueril. Dessa câmera fotográfica milimétrica na qual meus olhos se transformam ao registrar cada detalhe marcado no teu corpo; suas pintinhas tão delicadas, no rosto, do lado direito, um pouco acima dos pelos magnéticos da tua barba; e não só ali, mas também em todos os outros cantos escondidos da sua pele clara que me fazem sentir privilegiada em poder saber que elas estão ali. Que é que a gente vai fazer disso? Das suas mãos que se prendem à minha cintura e dos seus dedos que me fazem contorcer o quanto posso. Dos seus gemidos de prazer enquanto te sinto por toda extensão que minha língua permite. E da sua retribuição não menos prazerosa. Que é que a gente vai fazer das mensagens trocadas com uma malícia que não sobressai o meu carinho? E das vezes em que você quiser dormir sobre o meu braço que torno imóvel pra que você não acorde. Dos seus pés branquinhos e tão bem cuidados que eu sempre quero massagear na tentativa de aliviar com toda vontade um pouco do seu cansaço de todo dia. E dos meus dedos que se perdem em meio aos seus cabelos curtos querendo nunca mais voltar. Que é que a gente vai fazer desse meu medo terrível de me apaixonar perdidamente por você? De me por a prova dos meus próprios monstros em troca da liberdade do meu coração. Que é? Que é que a gente vai fazer? Dessa minha compulsão pela sua voz. Dessa minha veneração pela tua beleza. Dessa minha adoração pela tua barba que arrepia todos os meus poros quando vai de encontro à minha nuca. E até da sua barriga que eu adoro que não seja malhada. Que é que eu vou fazer pra acabar com essa desconfiança do que eu sinto? Que é que eu vou fazer pra exterminar todos os indícios de resistência á você? Ainda que seja pra eu quebrar a cara e o coração outra vez; ainda que seja por você. Que seja só por você. Você que tomou o lugar de tantos altos, e loiros, e sarados, e estúpidos, e de outros bilhões que poderiam me habitar. Você que eu escolhi pra ocupar esse lugar vazio há tanto tempo – se é mesmo que isso se escolhe. Você que ganhou esse espaço em tudo que é meu e que agora não me deixa mais só, tampouco livre das lembranças diárias. A vaga é sua, meu bem, e como promovido à minha paixão, está encarregado de decidir a próxima cena desse nosso espetáculo ainda sem roteiro a ser dirigido. A final de contas, que é, então, que a gente vai fazer disso?  

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Cuidado! Produto tóxico



(...) E como se não bastasse essa minha idiotice súbita por você, hoje fiz pior. Passando pelas prateleiras da farmácia, ao invés de me atentar a qualquer remédio que fosse efetivo contra essa doença com a qual você me contaminou, vi em destaque, à minha altura e disposição, dezenas daquele desodorante que você usava e entupia o quarto com essa fragrância forte, esse cheiro de homem que por tanto tempo foi meu perfume favorito. No começo estranhei a essência do dorso da minha mão. Fazia tanto tempo que não te sentia que demorei a reconhecer esse cheiro impregnado na minha pele. Mas a memória do corpo... ah, essa consegue ser ainda mais intensa; e depois das respirações profundas que pareciam fazer multiplicar o tamanho dos meus pulmões pra que coubesse um pouquinho mais de você aqui dentro, de novo te senti. Me veio pra lembrar que era esse mesmo o aroma que você exalava enquanto me intoxicava de amor. Pronto. Já pode começar a rir da minha cara agora mesmo, depois de ler essa babaquice infinita. Tô merecendo, eu sei. Mas enquanto você ri e debocha, eu continuo aqui, sentada, escrevendo, e entre um minuto e outro levando minha mão direita ao encontro das minhas narinas asfixiadas por você. (...) 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Na linha (editado)


Eu não queria escrever sobre você. Depois eu quis, mas não me deixei. Aí passou a vontade e eu já não queria outra vez. Mas eu tô tão sem ter o que fazer que eu acho que isso me parece o melhor pra hoje que tô meio down e sem nenhuma programação pra noite. O brigadeiro eu já deixei pronto na cozinha. Tá esfriando sobre a mesa pra me fazer companhia ao longo dessas palavras melancólicas que sei que logo virão. Coisa de gente depressiva mesmo. Que quando se vê frente a um possível conflito amoroso acha que o mundo vai acabar, que o sofrimento dará as boas vindas e no fim das contas dispensa qualquer esperança à vida afetiva. Repito: tudo por um possível conflito!
Mas já que agora eu comecei não vou ficar enrolando, então. Se o que tava me impedindo de voltar aos escritos era o medo de que as palavras me trouxessem involuntariamente e avassaladoramente pra mais perto desse sentimento atrevido que ando tendo por você, já era! A sorte foi lançada. Á essa hora, também, o brigadeiro já tá no ponto certo pra ser devorado entre uma colherada e outra bem aqui do meu lado, na doce ilusão – literalmente – de que esses vômitos literários que costumo expelir me tragam algum resultado ou solução para as minhas paranóias e complicações emocionais (como nunca trouxeram), que não seja o meu ego inflado em alguns casos relendo inúmeras vezes a ‘obra’ que fui capaz de redigir. Bom, ao menos a minha auto-estima esse exercício da mente consegue ressaltar.
Sabe que eu não sei como é que eu fui deixar isso acontecer? Eu até que tava conseguindo, sabe-se lá como, me apaixonar outra vez. Mas apaixonar mesmo, deixando entrar em cena aquele friozinho na barriga, a insegurança ao falar; essas coisas bobas e tão gostosas que caracterizam o florescer da paixão. Mas acho que ainda era feto, semente que não se desenvolveu, tampouco desabrochou. Vai ver que não resistiu às milhas e milhas distantes que o avião levou temporariamente pra longe e que em troca me trouxeram uma situação inenarrável – por mais que agora eu esteja aqui tentando contá-la.
Protagonizando: o cara! Pele clara, voz aveludada e de bom tom, um nariz empinado e pontiagudo que exprime a dose exata de delicadeza para um rosto masculino, e que assenta tão bem com os olhos que ainda não sei se são verdes ou azuis porque eles sempre me hipnotizam quando estão fixos e de encontro aos meus. Ah, o seu olhar... Não bastassem as íris claras, as sobrancelhas arqueadas com aquele contorno que nunca é certo numa face masculina dão uma graça a mais ao rosto que tanto me fascina. Jamais poderia me esquecer de lembrar também da barba que é praticamente um ímã para as minhas mãos, e lábios, e nuca, e costas, e lábios outra vez, e todo o corpo. Esses pelos que pra mim são fundamentais em um homem, nele esbanjam beleza. Sensualidade. E em mim, desejo.
Pois é, meu bem, já pode se pronunciar e bater no peito orgulhoso por se reconhecer como o dono das características mencionadas logo ai, porque é de você mesmo que eu falo. E falo com fervor! Com vontade. Porque é assim que tenho ficado, ainda que receosamente, quando o assunto se volta pra ti. E isso me assusta, viu. Temo essa sensação que meu peito por hora experimenta. Não sei bem se é só desejo. Se é encanto por teu jeito moleque; menino inocente ainda que de corpo crescido, ou se o pior tá mesmo acontecendo e a paixão resolveu de novo me visitar depois dessa espécie de aborto espontâneo que sofri após sua chegada – em relação àquele outro projeto de sentimento que quis começar a palpitar por essas terras aqui de dentro. Aí eu te peço: se minhas suspeitas se confirmarem, fala pra mim que não! Não em hipótese alguma. Sei lá, me mostra algum defeito seu que me faça não querer nem por decreto sua respiração ofegante próxima a minha boca. Me trate com frieza, com descaso se for o caso, e me ignore também. Me decepcione, seja grosso, estúpido, faça com que eu me desiluda totalmente dessa figura que me cativou em progressão geométrica pra que eu não mais sinta a necessidade dessa sua barba roçando na minha nuca enquanto você dorme me abraçando com a mão sobre a minha cintura. Não precisa ser verdadeiro nem precisa ser você porque eu também não acredito que seria, mas sei lá, por um instante só. Tenta, inventa! Só não continue sendo esse homem que tem ganhado parte dos meus dias em pensamentos e recordações, falas reprimidas, e olhares perdidos e distantes dentro de casa e mais do que atentos em meio às ruas da cidade na esperança de te ver no shopping, no trânsito ou na próxima avenida que eu venha a cruzar. Só não continue me encantando nessa velocidade exponencial porque meu tombo pode ser grande, e se continuar desse jeito, ele logo virá a dividir a cena com o meu desconcerto que às vezes é tão grande na sua presença. Só não continue sendo diante dos meus olhos nus esse homem dócil que adormece sobre os meus braços como uma criança inocente que mal sabe dos perigos dessa vida. Simples assim, só não continue. Deixe que o único doce permitido a participar da minha rotina seja esse mesmo brigadeiro que agora já está pela metade enquanto te lembro e nos lembro. Mas que não seja você. Você que vem se mostrando tão prazeroso quanto essas colheradas que na segunda-feira só me trarão arrependimento.
E quanto prazer! Um dos grandes responsáveis pelos flashes que já disse serem cada vez mais freqüente na minha rotina atualmente entediante dominada pelo ócio das férias. É só eu fechar os olhos que logo me surgem os seus quando pesa seu corpo sobre mim; eles se cerram, quase se fecham inteiramente, entregues à satisfação que compartilhamos e proporcionamos aos nossos corpos: nus, suados, exalando além dos nossos fluidos, a complacência que é destaque em nosso tato, no nosso toque. Me enche de tesão poder ver seus espasmos mais íntimos e sinceros, sua rendição a mim que naquele momento, ao menos, te possuo. Me delicio ao te ver de pernas trêmulas, gemendo, e às vezes contendo a respiração que parece difícil sair em meio a essa explosão de hormônios que correm aí dentro. Me deleito com essa imagem e ponho um sorriso malicioso na boca. E na boca ponho tudo o que você quiser.
            Á essa hora eu já nem me importo mais com o meu prazer porque o seu já transcendeu em mim. E quando ele passa você continua a me estimular com sua inaptidão a qualquer tipo de resposta que te possa ser cobrada; mínima que for, porque nos minutos seguintes você não consegue levantar um dedo sequer. É essa malemolência que me satisfaz; o que me contempla é esse momento sublime entre nós dois: saber que fui eu quem te causou essa turbulência de sensações maravilhosas.
 Missão cumprida.
            Mas já não tenho mais tanta convicção de que isto me basta. De que seu prazer é suficiente pra me manter à sua disposição toda semana, embora eu queira que isto não se cesse, é óbvio. (...) Soa um tanto quanto contraditório pra quem se põe em minha frente e vê essa renúncia que faço a uma possível paixão. Logo eu que tenho dito a quem quiser ouvir que meu único receio é de nunca mais me apaixonar louca e perdidamente por alguém. Entretanto, as circunstâncias dessa aventura não me deixaram criar asas pra voar e explorar esse sentimento de toda maneira que me coubesse. Seria tortura, masoquismo – uma experiência suicida. E esse tipo eu já conheço e não quero relembrar, tampouco reviver. Deixo que nas minhas memórias restem apenas os sorrisos que você me deu, os prazeres que me ofereceu, a minha loucura que me permitiu te conhecer e todas as associações que serão inevitáveis.
Ainda não sei como seremos nessa vida. Se voltaremos a nos ver, se nossa – até então – última vez me servirá de reticências para os próximos dias, se a esperança vai me consumir, se vou me negar a prosseguir, ou se a você vou me render. Isso só quem vai poder dizer são as surpresas que a vida nos reserva, que tanto existem que se comprovam com o que já nos proporcionaram até hoje. Minha vontade era logo por um ponto final nessa angústia de não saber se ainda posso esperar uma ligação sua, mas acho que minha paciência não foi testada o suficiente e talvez por isso eu ainda deva roer algumas unhas, comer compulsivamente, voltar às suas fotos, reler essas palavras e ouvir algumas músicas que me faça te ter de volta em pensamentos até que alguma nova constatação me coloque diante de uma postura fixa em relação a você, seja pra ficar ou pra, de uma vez por todas, entender que você na minha vida foi apenas um flash, uma estrela das mais brilhantes que passou por esse meu céu avermelhado e pulsante envolto de artérias e muitos sentimentos retidos. Por enquanto eu me despeço e hoje fico só com o meu brigadeiro, pois, por mais que ele ainda possa me trazer algum prejuízo, ao coração, pelo menos, sei que me fará bem e este eu preciso recuperar. 

sábado, 21 de julho de 2012

O amor (entre suas infinitas vertentes)


Amor, amor. É mesmo surpreendente tamanha certeza do que se sente sem nenhuma explicação que comprove esse habitante fixo dos corações. Sabe-se de sua presença apenas pela grandeza de amar. Sem auxílios nem motivos. Razões inexistem. Ah, o amor... quando vem, nega passagem pra qualquer outro flerte que não seja aquele único que aquece de tal maneira que chega a corar as bochechas dos mais acanhados. E quando vem, é exibido sem resquícios de moderação no sorriso largo estampado na cara dos apaixonados. E quando vem, não esconde os poros e pelos de todo o corpo ouriçados pelo toque do outro na pele dos mais ousados. E quando vem, fere mais do que chamas vívidas o peito de quem sofre por não ter por perto o abraço que poderia poupá-lo de tanta dor. E quando vem, vira de cabeça pra baixo o mundo dos intensos que se entregam de todas as formas que conseguem a esse sentimento que transforma a vida. E que não pergunta. Não pede licença. Se auto afirma e que se cuidem aqueles que resolvem afrontá-lo. Estes compram não só uma briga, mas uma guerra inteira com a maior inimiga de toda permissividade que defende o amor: a explicação. E repito que não há porquês dentro da loucura de amar. Ele existe e independe do corpo escultural, da voz sedutora, do beijo que faz desaparecer o fôlego, das palavras bonitas, dos poemas românticos, das declarações públicas de afeto e do sexo que queima as calorias que uma hora de esteira não seria capaz. Estas são só consequências. Quem procura as raízes desse sentimento, o faz em vão. É que nunca se sabe exatamente quando foi que ele nasceu. Se foi logo no primeiro beijo ou depois de uma discussão que tinha tudo pra ser irreversível. É um processo contínuo, dormente, que se arma inteiro até estar resistente o suficiente para dar o bote. E só ai, então, é que se dá conta de que ele vive. Quando já está ali. Plantado. Maduro. Trancafiado entre as artérias e pulsando no ritmo das batidas vitais. E ninguém consegue movê-lo. É sedentário no peito nômade de quem o teme e por isso foge. Mas o amor é paciente. Enxerga além de tudo que o afasta de seu verdadeiro lar e espera. Espera o tempo com o tempo e pelo tempo – a bússola sem direção dessa viagem. Espera o tempo passar, espera o tempo chegar. Espera com uma paciência incompreensível de quem já não mais se afeta pela demora. É a desesperança alimentada pela própria esperança. É a crença naquilo que já perdeu todos os indícios de credibilidade. Mas ainda assim é crível. Por quê? Porque é amor. E amor não se explica, apenas se sente. Sente-se e espere que ele virá. Doce como chocolate quente em dias chuvosos de carência e sentimento aflorado. Inconseqüente, metendo os pés pelas mãos em cada tentativa de acertar. Azedo, contaminado pela pressão incessante de um mundo capitalista. Voraz, com pressa de viver uma história intensa em meio a tantos corações descartáveis – corra, antes que este também se vá pela lixeira detrás da porta! Complicado, recheado de obstáculos-testes que ponham á prova o sentimento alheio. Ardente. Ciumento. Doentio. Dependente. Livre. A maneira não importa; ele virá. E quando isso acontecer, evite os diagnósticos. O amor é subjetivo demais pra ser metodizado, por isso, não defina nem limite a expressão mais bela de todo ser que é vivo e ama. Alie-se por mais uma vez ao tempo, pois ele sim é o único capaz de destrinchar e acalmar todas as turbulências que o amor provoca. E por fim, compreenda. Já disse Fernando Pessoa que “tudo o que chega, chega sempre por alguma razão.” Ninguém melhor do que esse sentimento louco e revolucionário para oferecer a cada coração o instigante desafio de tentar desvendá-lo enquanto em vida estivermos.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Peito aberto. Cabeça limpa. Alma lavada.


     É essa dúvida que me agoniza. É por não ter a resposta de que tanto preciso, o motivo da angústia que me tomou, e ela só não me faz roer as unhas porque nunca fui adepta desse vício que nada soluciona. E tudo se resolveria com uma confirmação. Simples. Positiva ou não, era a resposta exata que me poria de volta à vida ou então me afogaria ainda mais em mim mesma. E em você. Sempre você que mesmo não sabendo, penso, ainda comanda a entrada de qualquer um do sexo masculino que queira se aproximar desse meu coração já empoeirado, porque aqueles que nem sequer se igualam à sua excelência não são mesmo dignos de me habitar.
     Puta que o pariu! Onde é que eu estava com a cabeça quando te dei a liberdade de me tomar por inteiro sem ao menos um questionamento, á princípio, fazer? Também não sei e a procuro ainda com falsas esperanças de encontrá-la perdida por aí. Talvez eu tenha mais sucesso na busca partindo do lugar onde tudo nasceu; onde nos encontramos e eu, então, comecei a me perder. Mas no chão, embaixo da cama que foi onde ficou sua camisa naquele dia, eu não vejo nada. Em cima, em meio aos edredons emaranhados sobre o lençol, idem. Nada pelo chão, nem pelos degraus da piscina, nem mesmo próximo aos bancos que repousavam a preguiça coletiva. Os corredores estão vazios e também não há rastros sobre a mesa da cozinha ou a da varanda que ao menos por duas vezes nos fazia vistos durante o dia.
     Sem bons resultados, desisti. E ela, meses depois, foi quem aos poucos começou a me perseguir. Feito zumbi. Fantasma que me fez ver gradativamente as sombras desse problema. Você ainda é meu maior problema. É o que me aprisiona, o obstáculo que me atém a cada novo passo em busca de progresso que tento dar. Progresso esse que por todas as vezes falha. Tento, tento, e mesmo que a cada dia mais distante, você ainda me aparece; zumbi mesmo, não há outra descrição mais próxima da minha realidade. Tá tudo bem, tá tudo certo quando me vem sem mais nem menos uma tempestade torrencial de você, de nós. E te confesso que este fardo eu já não sei mais como carregar. Desde que abandonei essa idéia racionalmente ilusória de querer uma profilaxia pra doença que você plantou em mim – e talvez eu nunca devesse ter assumido essa loucura – tenho constatado que vez em quando é melhor deixar que os impulsos sejam contidos pelo bom senso, pela razão da vida porque assim a gente se poupa de tudo que pode vir a ser sofrimento, possíveis até de alcançar o ridículo. Porque cheguei também a me ridicularizar por você. Tanto, que quando você estava ali ao meu lado, entretanto abrigando por hora o corpo de uma outra a quem escolheu por falta de opção – e tempo – dei continuidade á sua tarefa de tapar os meus próprios olhos e te quis bem, te preparei um suco, alguma coisa leve, não me lembro o quê – tudo em prol do seu estômago que aí dentro urrava e te doía. Talvez eu devesse mesmo ter te deixado sentir a queimação incomodando, quem sabe assim você comprovaria na pele a mesma repugnância que eu sempre engoli goela abaixo e que naquele momento se repetia, tomada pelo nojo de vocês dois.
     Com ela ali frente a nós, sobrando em meio a tanto desconcerto e coadjuvando nosso desconforto, o qual enfeitou por alguns poucos longos minutos o quarto em que você dormia, você parecia sentir pena de mim, e suas tentativas compassivas de me fazer cega diante dos fatos escancarados embaixo do meu nariz foram ainda mais patéticas. Espera ela sair da sala e vem pro meu quarto. Ah, por favor, hein. E eu, burra – é, burra – até achei legal da sua parte naquele momento, querer me evitar maiores decepções. Me resumia em migalhas, no seu resto, no seu pó. E tenho náuseas só de lembrar que cheguei a acolher o meu lençol que você, provavelmente num momento fora de si pra cometer tamanha falta de respeito, pegou da minha cama pra forrar seu gozo nutrido apenas por saturação, egoísmo e necessidade de por pra fora aquilo você queria comigo, mas que não teve porque ao menos uma vez na vida te foi cobrada a decência para com uma mulher.
     Desprezível. É isso que você deveria ser na minha rotina, mas me escravizei por tanto tempo pelos seus maus tratos – que espero terem sido apenas inconscientes –, que acho que me acostumei com o castigo de gostar de você. Estou mesmo condenada a pagar a pena eterna desse amor sem uma força mínima que me ajude a recorrer, que dirá ser absolvida. E é mesmo um castigo você na minha vida. Me cansa, me esgota e me faz idiota. Uma passível dos mais elevados níveis. Na verdade, acho que nem palavras a esta altura conseguem traduzir o quão pequena e menosprezada me sinto por ainda te dar a relevância que você em dia algum mereceu. Embora enraivecida, indignada, inconformada, e intolerante eu esteja exatamente agora, me atrevo ainda a dizer que não te quero mais. Mesmo estremecida totalmente, dos meus pés trinta e seis ao meu último fio de cabelo dourado, quando te vejo e surpreendentemente, por ti sou ignorada. Mesmo quando você fala comigo e eu concordo com todos os seus pontos finais do nosso discurso quase sempre indireto, porque sei serem em vão todas as minhas tentativas de te convencer de qualquer contrário. Mesmo quando te vejo feliz e tenho plena consciência de que deste seu estado emocional eu não fui participativa em um único suspiro sequer. Mesmo que. Mesmo assim. Mesmo quando. Mesmo sem. Mesmo agora. Mesmo não sabendo por quantos dias mais esse sufoco vai se estender.
     A tal dúvida que deu início á esse cuspe na sua cara já não é mais tão derradeira para a minha própria paz. Primeiramente porque sei exatamente o que acontece no seu campo de batalha nesse momento, e não sou tão desalmada a ponto de me ver como o centro do universo enquanto outra gravidade sobressai meu sentimentalismo. Também em razão do futuro não tão distante que me aguarda repleto de nova gente. E ainda pelo seu comportamento pueril, indigno do restante da minha paciência com a qual você, sem moderação alguma, se esbaldou o quanto pode. Além de você por inteiro, não queria também que sua curiosidade que sei ser grande, te trouxesse até aqui fazendo com que você lesse o que desabafo agora, porque não tenho a pretensão, por mais nem uma vez, que você se dê o luxo de ver que ainda te cogito, que te escrevo, te penso. Nem que você saiba que ainda não é tão indiferente na minha vida, embora pessoalmente isso seja tudo que eu tento mostrar e, impressionantemente, é também o que venho conseguindo alcançar – minha neutralidade com e sem o seu contato.
     Você me apodreceu, me fez desacreditar de todas as coisas boas que um dia já pensei existir na vida de quem nos deixamos amar. E brotou em mim o medo. Tenho medo de entregar em mãos a minha felicidade pra qualquer nova pessoa e por mais uma vez me decepcionar. Por isso, talvez, é que permaneço na tortura de recuar e agüentar sempre sozinha as toneladas de conseqüências que, descansando sobre minhas costas, se mostram monstruosas em quantidade, densidade e aderência. Nunca fui exageradamente religiosa, mas finalmente, Deus. A única explicação para que tal vitória grandiosa, diga-se de passagem, ocorresse. Se mostrou indubitavelmente mais do que justo e presente na minha vida submissa e devota a quem sequer um dia santo foi – quiçá seria e também nunca será – quando me fez de uma vez por todas perceber que você não vale a pena. Que nunca valeu. Apenas o que me sobra agora é dó de quem ainda se rende e se prende a essa armadilha camuflada em meio aos dentes bonitos que enchem uma boca descompromissada e inconfiável – por mais irônico e duvidoso que isso possa parecer para alguns e algumas. Somos agora dois desconhecidos. Dos mais íntimos que, paradoxalmente, podem existir. E sabe do quê mais? Tô preferindo que seja assim. Uma vez que nos decepcionamos tão ferozmente assim, não há memória do passado, por mais bela e impecável que seja, capaz de sustentar a decadência de uma admiração jogada no lixo – ainda mais pelo seu próprio dono.

domingo, 29 de janeiro de 2012

"Preciso demais desabafar"


     Não cheguem perto. Pelo menos por esses dias, não, assim com certeza será melhor pra mim e pra quem pelas redondezas estiver. E olha que eu nem tô de TPM, hein. Aliás, isso não me pertence, mas algum parente meio torto e de sintomas parecidos com o dela, resolveu por hora aparecer e se apossar desse corpo que carrego. Tudo me irrita, nada me agrada, tampouco anda me satisfazendo. A cidade não colabora, mas o tédio em contrapartida, não me faz esquecer por um minuto sequer da sua presença impiedosamente assídua no meu dia a dia. Férias? Pelo andar dos fatos preferiria que elas já tivessem me dado adeus há dias, semanas talvez. Mudaria a ordem das coisas: pegaria no batente o quanto antes. Na faculdade pra matar de vez a curiosidade que me aguça tanto sobre o curso que pretendo seguir fielmente, no inglês pra acabar definitivamente com esse sofrimento prolongado por nada menos que seis anos, no espanhol pra que ao menos uma vez na semana eu tenha meus risos garantidos por duas horas, e nas possíveis e futuras atividades remuneradas, porque quem sabe assim eu dependa um pouco menos dos meus progenitores quando não tenho a mínima vontade de dar satisfação da finalidade do dinheiro que, com tanto receio, os peço. E em troca, pediria folga das pessoas. De umas que me cansam, das outras que me dão enjôo, daquelas que ridiculamente me ignoram. Dos fúteis, improdutivos, supérfluos e desnecessários. Irritantes – ao menos a mim.
     Quero mesmo é sentir os ares desse ano que, de novo, ainda não conseguir avistar um único dia. Tá tudo igual, tudo na mesma. Talvez eu precise mesmo é da rotina pra me convencer de que não sou mais o ano que há quase um mês se despediu da humanidade. Se for assim, que venham então os meus dias programados esbanjando novas responsabilidades e ocupações úteis à minha cabeça que anda cansada da mesmice, à minha cabeça que ainda não passou do trinta e um de dezembro, à minha cabeça que insiste em se ligar como um ímã em pessoas que de dois mil e onze não deveriam sair. Namorado eu não sei o que é, nunca foi minha prioridade saber, mas talvez eu esteja sentindo pela primeira vez a necessidade de um. Um que me diga, olhando nos meus olhos, que sou mais do que a carcaça que os meros moleques anteriores viam, pois por mais homem que cada um deles se julgasse, nunca passaram de meninos em uma fase indefinida posterior á puberdade; fase que, indubitavelmente, não merece tão precocemente o título de ‘homem’. Algum que não recrimine a minha obsessão pela liberdade que é indispensável na vida de qualquer pessoa, porque antes de casal e dois, todos eram únicos e sós. Qualquer um que não me queira pra gozar os problemas do trabalho, o ego mal massageado pela amada que o rejeita, ou os hormônios a tempo de explodir o corpo que habitam se não forem o quanto antes expelidos.
     Mas essa minha personalidade esférica me condena e põe por água abaixo todos os planos e diálogos que minuciosamente preparo em mente. Posso ter sido mal educada aqui, grossa ali, indiferente acolá, e o motivo certamente foi algum desses que me cutucam provocadores. Se não um, todos eles. Não sei ser direta o quanto preciso, e dessa forma evito conflitos com todos que me rodeiam pra deixar que o circo todo se arme aqui dentro – espetáculo privado. Penso demais e sozinha, e as conclusões as quais alcanço, são sempre hipotéticas. Libriana, sempre me ponho em dúvida, e me perco ainda mais nesse labirinto de possibilidades e cogitações, mas nunca certezas. Sofro pela indecisão, por deixar que tudo passe sobre mim, não falo e me castigo. Parece feitiço, um desses que nem um banho com todas as superstições existentes consegue desfazer. E apenas quando o tempo fecha e a chuva se metamorfoseia nas lágrimas que escorrem habilmente minhas bochechas, e fazem o contorno certeiro do meu queixo até descerem de encontro ao meu pescoço, é que transponho em minha face tudo aquilo que minha boca se nega a balbuciar. Falar nunca foi meu forte. Quem quiser me entender, que me decifre, que me sinta, me leia, mas não me fale, não enquanto palavras tivermos.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Ao eterno estranhamento entre os dois sexos


     A que mulher, afinal, buscam os homens? Me deparo frequentemente com episódios nauseantes acerca dos pré requisitos que hoje em dia os machos julgam indispensáveis naquelas que cogitam ser suas damas. E pra ser sincera os incompreendo. Não sei o que toma conta da cabeça masculina e a faz ser tão primitiva por diversas vezes ainda no terceiro milênio. Primitivismo esse que dá raiva. E muita. Contra argumento do tipo “mas eu posso porque sou homem” ou “isso não é coisa que mulher se faz” é decisivo pra minha birra, e na raiva, a vontade que prevalece é a oposta do que desejam os marmanjos embora esta seja unicamente pra contrariar, fazer pirraça mesmo, e mostrá-los que não somos assim tão dependentes de suas aprovações e de seus pacotes quase sempre incompletos.
     Talvez a independência que nós, mulheres, viemos construindo por séculos é uma das pulguinhas que tanto comicha o ego absolutista dos dotados de testosterona. Em um passado significativamente distante, estávamos á mercê de quase todas as suas vontades. Pra sair, usar certa roupa, dirigir, entre outros atos que a sociedade nos escondia. Passado. Mas não caiu ainda em suas mentes – nos casos mais graves, retrógradas – a idéia de que tal regime, atualmente apenas psicológico, perdeu seu trono há tempos, e que a mesma palavra agora só designa no universo feminino um bem que fazemos em prol do nosso corpo e vaidade quando pensamos ser necessário. Pois é, darlings, deu pane no sistema, ou melhor, naquilo que vocês projetaram com tantas tentativas perfeccionistas: nós. Fugimos da receita, perdemos a forma pra desenhar a nossa própria, a nosso gosto e moderação, a qual vem sendo diminuída a cada dia com maior intensidade porque a vontade de se satisfazer é preferência entre nós, e por isso independe dos rótulos atribuídos devido ás ditaduras e pensamentos machistas, queiram vocês ou não, estamos na pista.
     Não dá pra negar que estamos, sim, sujeitas a mediocridade implantada na cabeça e nas atitudes de alguns que esteriotipam dada mulher pelo que de primeiro conseguem nela avistar. Tanto que algumas ainda têm coragem de condizer com seus enamorados quando e onde os hormônios loucos do rapaz dela precisarem. No cardápio temos como exemplo a bonequinha. Essa é a menina recatada, delicadinha, meiguinha, magrinha, pequenininha, educadinha, e vem com ela o bônus de todos os -inhas que o dicionário oferecer. Ela é do tipo que falta do encontro marcado há dias com as amigas pra dar espaço ao rapaz mimado que não aceita jantar outra coisa senão aquilo que só a única sabe fazer. Esquece-se de si mesma pra agradar ao outro. É indicada àqueles que costumam mal dizer de todas as moçoilas da cidade porque sabem que têm em casa o seu enfeite pra estante da sala, o troféu a ser exibido aos amigos trogloditas: a impecável que nunca os decepcionam, e o preço a se pagar, meus caros, é que elas também nunca vão surpreendê-los – nem para o mal, menos ainda para o bem. Conformem-se. E vocês, mocinhas, serão mesmo por toda a vida apenas o bichinho de estimação do seu talvez amor, porque ao pisar na rua, ele olhará sim pra todas as bundas que em sua frente passarem e as desejará com a mesma fome de quem está há meses de jejum. Cabe a vocês tomarem partido da situação e se posicionarem de acordo com o que se fazem valer: uma mulher ou uma estatueta?
     Em contrapartida aos bibelôs estão as famosas periguetes. Estas não deixam que seus machos as exponham porque elas fazem isso por si só. E da pior maneira possível: a mais vulgar que conseguem ser. Seja exibindo a (pouca) roupa que vestem, ou pelo jeito exagerado como mascam um chiclete e trocam algumas palavras com os homens – porque os prováveis assuntos são incapazes de fazer fluir uma boa conversa; falta conteúdo –. Isso basta pra que seja percebido logo de cara a que vieram: não conseguem estar perto sem tocar, falar sem gritar, e seduzir sem escancaradamente incitar. Em suma, interesseiras, são uma boa escolha aos one night stand já que seus intuitos não são assim tão distintos dos deles. Talvez essas até mereçam o título que carregam porque não sabem no mínimo se colocar em seus papéis de mulheres ao invés de objeto. Ônus da espécie: homens, esqueçam as várias boas oportunidades que poderiam surgir com moças que valem mesmo a pena quando resolverem passar as mãos pelos pêlos oxigenados das pernas da dita cuja. Vocês acabaram de perder muitos pontos, valiosos por sinal, com as promissoras.
     E pra finalizar destaco as bem resolvidas, donas da minha plena admiração. São aquelas que xingam e riem sem se preocupar com a opinião alheia. Valorizam o corpo que têm e não se vendem por um carro importado ou um restaurante caríssimo. Não se negam. São prioridades de si próprias. E se a vontade for de transar num primeiro encontro, que assim seja. Elas sabem que nenhuma das atitudes tomadas põe em questão seu caráter, tampouco sua personalidade porque quem de fato as conhece, sabe também que passar vontade é uma sensação que nunca esteve presente em seus dias – desde que a tentação da vez não as permita que se desfaçam dos valores que conduzem. Quanto aos outros, eles são só os outros e não somam em nada na primeira suposta má impressão que podem cultivar em seus pensamentos limitados; tais quais aqueles que a sociedade, com tanta firmeza, impõe acerca das donzelas. Estas são destinadas apenas aos ousados, livres, desbravadores e independentes, porque assim elas também são. Têm seus próprios compromissos e não se resumem basicamente na vida do parceiro que, se as quiserem mesmo ao seu lado, terão de dedicar-se ao máximo em fazê-las felizes, porque á elas não faltarão pretendentes a cada esquina virada já que a auto-estima e confiança, que são suas melhores amigas, fazem resplandecer ainda mais a beleza que carregam consigo diariamente.
     As diversidades femininas são inúmeras, e essas são apenas algumas das infindáveis categorias que eles provavelmente nomeiam ao ver uma mulher passar, mas o fato é que não importa o nome dado a cada uma das ‘tribos’. Eles nunca estarão satisfeitos com o que oferecemos. Vai faltar algo. Se não for bunda será peito, porque o resto tanto faz – ao menos aos olhos cegos para o interior, mas demasiadamente nítidos a tudo que se reverte ao sexo – e infelizmente esses representam a maioria. E se vierem em excesso também haverá reclamações porque seus atributos altamente generosos te fazem parecer vulgar. Caso esteja tudo em dia com o físico, prepare-se para ser alvejada no comportamento e também nas idéias. Sua possível solução para o problema da violência contra a mulher, ou ainda a maneira totalmente por eles maliciada de como você cruza sensualmente as pernas – por instinto, porque mulher gosta mesmo de seduzir a todos e não só àqueles por quem os inseguros se sentem ameaçados – afinal, é difícil de aceitar pensamentos tão modernos e um comportamento totalmente oposto à marionete que sempre os obedecia. Sempre haverá aquilo que se não for motivo suficiente pra ser considerado um defeito, eles o tornarão, simplesmente porque nem os próprios sabem exatamente a que procuram e por isso empurram às belas seus dilemas. Sinto lhes informar, mas pacote completo vocês nunca terão, e de uma vez por todas queiram aceitar a dita realidade, queridos, afinal, nunca se pode exigir de alguém aquilo que nós também somos incapazes de oferecer. E é isso o que têm nos mostrado.