Já não bastasse os inúmeros empecilhos com os quais convivo diariamente para me manter estática frente às infindáveis recordações que tenho em mente sobre meu primeiro grande amor, assisto a chegada de outro guerrilheiro na pacatez em que minha vida se encontra e vejo que o conflito será duradouro.
De um lado, aquilo que eu construí de mais belo e maduro. Meu eterno exemplo de determinação, boas condutas e merecedor da minha plena admiração nos mais diversos aspectos. Mesmo que conhecido de longas datas, foi inesperadamente que passou a ter tamanha relevância em tudo o que hoje julgo necessário em meu cotidiano e ao anoitecer, em meu subconsciente, sempre que protagoniza meus sonhos, me fazendo amá-lo a cada dia com mais fervor. Do outro, alguém comparável a um furacão ou algum outro fenômeno natural equivalente, notado em qualquer esquina que venha a cruzar devido à sua beleza não menos que exuberante. Deste, mal pude conhecer os (bons) valores. Por falta de tempo ou interesse, o que ficou foi a pressa da carne em mostrar quem liderava aquele jogo. Sem mais delongas, apenas prazer. A conversa?! Ah, esta fica para depois, em um próximo encontro que quando chega, é tomado por pura luxúria e deixa qualquer mísero diálogo para segundo plano mais uma vez, e eu ainda assim o desejo, mesmo consciente do meu pecado, desejo! Estou entre os gladiadores que mal sabem de suas inegáveis participações em mim. Permaneço de mãos atadas sem saber para que lado partir, apenas acompanhando a maré que meu corpo e meu coração por hora ordenam.
Tal diferença de sentimentos que eles me despertam me indaga. É possível que alguém ame uma pessoa e sinta um desejo arrebatador por outra? Estaria eu traindo o sentimento por quem tenho tanta fidelidade? Ou então abusando de alguém toda vez que quero sua pele e suas formas? A partir da minha constante reflexão, sou tomada pela culpa, pela dúvida e pelas incertezas que só aumentam minha aflição diante da falta de uma resposta exata para este tipo de distúrbio emocional.
Quanto à armadura, ambos desfrutam de igual proteção. O sorriso paradoxal que me busca do céu e me leva ao inferno é neutralizado por um novo olhar, fixo e fuzilador. Os cabelos quase loiros se contrastam com o outro que é preto. A barba que às vezes é falha em X, mostra-se com total freqüência em Y. O corpo de músculos desenhados e curvas atraentes duela com uma cabeça surpreendentemente sábia. O estilo alternativo de um em contrapartida com o conservadorismo do outro. E mais uma vez eu, entre amar e desejar.
Um minuto a mais pensando na pergunta que desencadeou todo esse transtorno e a resposta vem à tona: Não! Não estou errada! Não vou ser guilhotinada em praça pública porque me vi maior do que sobras de carinho aliadas em pena! Não mereço viver a vida de quem já se completou amorosamente! Não devo satisfações a quem me procura quando já não vê mais nada conveniente a si próprio às cinco da manhã! Não sou culpada por apenas querer o corpo de quem faz o mesmo comigo! Não tenho que viver como se estivesse segurando uma senha, aguardando que chamassem pelo meu nome! E por fim, não! Não estou revoltada, apenas desacreditada; das possibilidades, das oportunidades e também das pessoas e de suas (boas) intenções.
Ainda que caindo como um bebê que aprende a trocar os passos, vou dando minha cara à tapa e descobrindo o mundo e os seres que me cercam; e quem se encarregou de fincar essa desconfiança em mim, foram os próprios inquilinos que hoje são meus credores – morais e emocionais. Eu, que quase sempre tenho a inocência de acreditar na palavra das pessoas, venho acordando forçadamente de dois sonhos lindos que por falta de reciprocidade deixaram de acontecer. Em uma das circunstâncias, não pude mostrar o quanto é rico o que possuo e como poderia retribuir todos os aprendizados que me foram oferecidos. Já na outra, ainda há a possibilidade de eu encontrar algo que perdure mesmo não sabendo quais os prós e contras dessa aventura. O que me resta é abstrair qualquer tipo de esperança que se faz valer em mim para que então eu deixe de viver sozinha o que sempre me vendem em conjunto – de amores, idealizações e no mais tardar desilusões.

Nenhum comentário:
Postar um comentário