segunda-feira, 6 de junho de 2011

Isa, a bela


     Dezessete anos, e entre eles, me encontro em cinco. Matematicamente, 30% de uma vida repleta de luz. A porcentagem aparentemente é pequena, porém a intensidade com que foi vivida, excede o total, o inteiro.
     A princípio, apenas a superficialidade era de se destacar. O convívio era diário, entediado por cinco aulas, então nada mais a se esperar além de alguns diálogos ainda acanhados, devido à falta de intimidade. O episódio da novela do dia anterior, a cor do esmalte da menina da outra classe, o que achamos do clipe daquela banda que não parava de tocar, o resultado dos testes de amor da revista adolescente ou então como era lindo o mocinho da nova temporada da Malhação.
     Daí a alguns meses, os laços ganharam maior resistência. Ainda me lembro da primeira vez em que deixamos de lado o trajeto casa – escola e então combinamos a primeira saída com as amigas em comum. Por algum motivo, todas faltaram e ali, apenas eu e ela. Talvez essa tenha sido a chave para desembocar algo que hoje é tão intrínseco.
     As descobertas foram se fazendo nesses anos todos, uma a uma, e a conclusão a que cheguei, é que, de fato, encontrei um tesouro. Pode parecer clichê, ou então fala característica de tia, usar tal objeto para designar o que quero, porém, por ser tão valiosa, desconheço outra relação que possa ser feita, ou ainda, me contradizendo, há tantas comparações cabíveis, que acabo por me perder em meio às inúmeras qualidades e os possíveis discursos.
     Pele clara, quase branca, estilo europeu. Cabelos castanhos, sorriso inocente, olhar e olhos fortes, marcantes, que dão rigidez onde não há indícios sequer da mesma, tamanha meninice que habita seu corpo. Uma borboleta – leve e colorida – em constante metamorfose. E como mudou desde os primeiros momentos em que a conheci. Cresceu, amadureceu. De menina ingênua, com medo da rua e de quem estava nela, desabrochou uma mulher, da qual me orgulho por ter acompanhado a transformação. Ficou velhaca e como eu mesma costumo dizê-la, “o couro foi ficando grosso”. A vida quis assim que ela aprendesse, aos poucos, aos tombos, e levasse cada ferimento das quedas sofridas com muita prioridade, para que não caísse outra vez. Das dezenas de qualidades, a que mais admiro é o valor dado aos seus valores. Não há quem consiga persuadi-la se o assunto em questão não é de sua índole. Postura que invejo, já que por tantas vezes contradigo o que me imponho por pura impulsividade.
     Cúmplices. Assim eu nos definiria atualmente. Quando mais me surpreendi, foi ao ver que em uma dada situação, ela conseguiu perceber meu descontento com o lugar em que estávamos sem que eu ao menos expressasse qualquer incômodo com o ambiente. “E eu não te conheço né, Beatriz?!” Foi o que ouvi quando comentamos sobre tal fato.
     Quando o assunto é amor, se puséssemos em uma balança todas as minhas dores que com ela desabafei, acho que não a faltaria créditos comigo para qualquer assunto escolhido ao acaso simplesmente por ter ouvido minhas infindáveis lamentações, ter me dado conselhos, e na pior das hipóteses, me atender de madrugada para, calada, me ouvir chorar. Realmente, não há preço que pague tal paciência.
     Conversamos, rimos, choramos, nos surpreendemos, odiamos, relembramos, reconhecemos, admiramos, nos indagamos, vivemos. São tantas as recordações que eu não poderia optar por uma ou outra se for para falar de tudo o que vivemos juntas. Ao mesmo tempo em que tento descrever aqui tudo o que me é importante se falo dela, vejo-me em uma dívida grandiosa com as palavras e com os meus sentimentos, pois eles são extremamente maiores do que qualquer junção de letras.
     Hoje, desejo-a uma vida repleta de felicidades, e que eu possa ter sido alguma delas durante essa trajetória que ainda não se findou. Agradeço pelo que recebi, e peço para que nosso caminho se estenda cada vez mais, e que juntas estejamos para somar: sua cabeça com o meu coração, sua delicadeza com a minha extravagância, sua inocência com a minha desconfiança, seu esforço com a minha leveza da vida, daí a achar o termo comum em nós, o amor, e então resultar em algo que por cinco anos deu certo: nossa amizade!

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