domingo, 12 de junho de 2011

(Re)conhecendo-o


     Profissional na arte da lábia e da boa conquista, ele começa a preparar seu território outra vez depois de ter recuado repentinamente. É indispensável fazer o jogo do bom moço; elogiar e dizer que sente saudades para que passe longe dos meus pensamentos embaraçados que qualquer tipo de atitude digna de um cafajeste nato possa vir de sua parte. Dito e feito!
     Eu logo de cara acreditei em uma maturidade de afetos que me foi vendida. No pacote promocional, um jogo de belas palavras e aparentes boas intenções pelo preço da minha talvez impagável paz de espírito e do bem estar do meu ego. Tarde demais! O produto era pirata, e nota de garantia eu não tinha. Saldo final: uma dívida não paga, sozinha.
     Ainda assim eu não me proibi. Mesmo que com a cabeça mais centrada do que no princípio, atendi às chamadas durante a madrugada e deixei que ele me puxasse de volta para seu redor.
     O celular toca enquanto o dia amanhece lá fora. Em uma hora tão improvável, e sem nenhuma esperança de sua presença, fico surpresa ao saber que a noite ainda não tenha acabado. Espero então, de maneira ansiosa para ter em mãos aquele homem que me faz perder as palavras quando tento defini-lo. Talvez ele nem seja merecedor desse pedestal que venho construindo a cada novo encontro, já que insiste em fazer do que poderia ser belo, nada mais do que superficial, entretanto seu poder de atração me vence e eu o recompenso como posso.
     Quando ele chega, meus passos – trêmulos e apressados – se aproximam gradativamente daquilo que para mim é o paraíso, o ápice da boa sorte. Ao entrar no carro, um beijo breve saúda minha boca e então uma sensação de ternura toma conta de mim. O perigo acena em minha direção, insinuando que qualquer excesso afetuoso pode devastar este motor pelo qual estou ali: meu coração; porém, a esta altura só tenho olhos para a sedução que é atirada em mim com tanta intensidade.
     Ao mesmo tempo em que dirige, me pergunta como estou e com quem eu estava, me fazendo acreditar que ele até possa se preocupar comigo, e eu, estonteada por sua voz grave, abdico de qualquer resquício racional para me entregar de vez à tentação.
     Paro e admiro incansavelmente essa espécie de escultura-natural-humana que se põe em minha frente. Cada minúcia é única e me satisfaz inteiramente mesmo que sem nenhuma razão... apenas me agrada. A corrente prata envolta no pescoço, a autenticidade nas roupas que veste, e até o poder de persuasão – quando me faz ouvir músicas que por anos condenei e dizia não gostar – mesmo que sem o seu conhecimento sobre tal. E depois me dilacera por ser assim, pássaro, águia que enxerga longe, além dos limites da cidade e é livre de qualquer outro ser local que queira sua presença, tem seu próprio caminho e nele anda como bem entende, enquanto eu, presa na minha menoridade tento me confortar com as vezes em que ele aparece sem aviso prévio já sabendo que estou pronta para recebê-lo sem questionar sua ausência que é sempre presente, sem ter a preocupação de ouvir cobranças que mesmo necessárias me falta coragem para fazer, sem qualquer compromisso em ter que ligar no dia seguinte para ouvir como eu estou e o que tenho pensado em relação a nós – plural que talvez seja inexistente em sua cabeça tão egocêntrica.
     Por todas as razões claras que tem me mostrado e que eu ingenuamente fazia questão de não acreditar, presumo hoje que o príncipe encantado não exista, quiçá existiu. Anda em um sentido contrário ao que me mostrou quando em sua primeira tentativa de me ter não hesitou em exibir, vangloriando-se de sua conduta em relação a relacionamentos e me convencendo de que tudo o que passei, o bom samaritano estaria disposto a me dar de maneira diferente e correta. Caiu em contradição e perdeu-se em suas próprias palavras, ou então, perdi-me em suas mentiras gritantes onde transborda apenas interesse. Não sei, e jamais saberei o que realmente aconteceu, mas como diria Caio, “Que seja doce!” e assim foi!

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