O que eu queria é saber por onde anda você às dezessete e dezenove da tarde, exatamente agora, enquanto estou aqui mexendo nos meus cabelos como o de costume que faço ao mesmo tempo em que escrevo. Você eu não sei o que faz, mas queria. E como. Queria poder estar na sua casa assim que você chegasse, e saber o que é que aconteceu durante o seu dia, e lá, te oferecer toda recompensa das suas horas cansativas. Massagear seus pés que acho tão bonitinhos, e te fazer carinho bagunçando seus fios curtos quando você se deitasse no meu colo, e me contasse empolgado sobre as suas conquistas que me deixariam ainda mais orgulhosa de você rente a mim, ou então dos obstáculos para consegui-las, me dando assim a oportunidade de te motivar a não desistir. E quando eu me levantasse do sofá que pareceria ter um ímã me puxando de volta às almofadas para que eu não saísse em momento algum de perto de você, prepararia uma bebida acompanhada de alguma coisa prática e instantânea para comermos, porque cozinhar nunca foi meu dom maior. E se você quisesse assistir um filme, por mim tudo bem. Não ligo, até porque eu não prestaria o mínimo de atenção nas cenas de aventura ou ação, as quais você provavelmente escolheria. Preferiria mesmo é continuar ostentando sua cabeça sempre tão pensativa sobre as minhas pernas, e perder meus dedos entre os seus cabelos, até que você se entregasse ao sono e me deixasse ver mais uma vez os seus olhos que, quando fechados, transparecem a sensibilidade escondida por trás de tanta resistência a tudo; e nesse momento, por esse simples fato de manter fechadas as pálpebras, confirmaria todas as qualidades que vejo em você apenas te observando dormente, aquelas que eles tentam me colocar em dúvida se você é ou não merecedor de tamanha admiração. Então, quando a chuva começasse a cair e os primeiros pingos fossem desenhados nos vidros da janela que estaria próxima á nós dois, deixaria que meu abraço te aquecesse e te fizesse querer estar ali por todos os dias, confortável e amado. E depois, quando você acordasse do sono que te deu paz por alguns longos minutos, quereria apenas que me retribuísse com um beijo macio todo o amor que lhe tem sido dado há tanto tempo. Ao chegar a hora da despedida, adiaria o máximo que me fosse possível fazê-la. Fingiria um cochilo quando o ponteiro menor do relógio se aproximasse do meu tempo limite junto a ti, mesmo que minha posição para pegar no sono de maneira tão fácil não fosse uma das mais confortáveis, tampouco convencíveis. E por ali eu ficaria: falseando o meu dormir e sentindo sua respiração soprar a ponta de alguns fios dos meus cabelos, até que notassem minha ausência e meu celular vibrasse, porque eu não quereria te incomodar com nenhum barulho, senão o do meu peito palpitando a satisfação do momento. Aí então, não teria mais como evitar a partida. E seria me levantando vagarosamente do sofá que me presenteou com tanta magia em simples gestos, que eu deixaria em você não mais o meu nariz roçando sobre o seu e nem meus olhos que te encararam fixamente sem nenhum descanso. Como lembrança, ficaria contigo nada mais que o meu cheiro e em troca levaria comigo o seu, para que sozinha no trajeto até a minha casa, você pudesse me acompanhar não mais em cinco, mas ao menos em um dos meus sentidos, para que quando nos deitássemos novamente, por vez eu sem seus braços e seu peito me servindo de travesseiro, e você sem esse cobertor ambulante que eu seria sobre seu corpo me negando a desaquecer tanto amor, voltássemos a nos encontrar, porque ainda teríamos um ao outro por toda a noite: agora nos nossos sonhos.

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