Quem é esse que tem nome, sobrenome e um histórico de crimes assustadores na vida da sua vítima mais freqüente? Se souberem, por favor, me dêem o endereço completo de onde ele reside, porque a penalidade atribuída ao infrator não será simbólica. Caso tivéssemos em mãos o poder de conter as loucuras desse ser com identidade, muita dor de cabeça poderia ter sido poupada a todos, que – ironicamente –são reféns de um fugitivo, e apenas mais um dos que já provaram o sabor que pode ser considerado no mínimo estranho para quem era virgem de tal sentimento. É estranho, porque contesta tantos postulados antigamente defendidos por unhas e dentes até que o ousado da vez chegasse. Não sei quanto aos demais, mas a mim isso incomoda, e muito, pois foi dessa maneira que me vi gradativamente perdida na pior das hipóteses de mim mesma, e dei a ele a grande parcela que abdiquei dos meus princípios em troca de quase nada. E foi irreversível.
Com a convivência, só ou não, é chegado um ponto em que já não é preciso contratar detetives e nem clamar por advogados, policiais ou qualquer uma das forças superiores para que seja desvendada a situação. Deixe-se apenas sentir e verá que aquilo é novo, único e inesquecível apesar dos ferimentos que o invasor possa ter deixado como pista de sua passagem. E que podem se passar os anos, as gerações, e outros de afeto similar – mas nunca igual – ao pioneiro, porque ainda assim ele resistirá às fotos batidas prestes a se decompor, às cartas de papel gasto por tantas vezes serem lidas e molhadas devido á companhia das lágrimas e aos aromas que não se perderam nem com a distância do tempo, porque a memória resgata cada partícula do que foi vivido. E então, pela primeira vez você reconhecerá o mais novo habitante do seu mundo paralelo a esse tão mal organizado em que vivemos. Em uma oração simples, a qual deveria te livrar de todo o mal, amém, o sujeito composto por mil e um caprichos anuncia assim como quem não quer nada além de você por inteira: “Prazer, sou seu primeiro amor!”
Já adianto àqueles que, assim como eu, são passageiros de primeira viagem dessa aventura: ele é complicado. Tem suas próprias vontades e bate firme o pé no que deseja mesmo quando a razão, que deveria ser superior a todas as insanidades que o primogênito comete, impõe suas ordens. E ele te fará quebrar a cara também; não há do que duvidar. Além de te fazer masoquista, pois ainda que seja nítido o seu sofrimento e o choro, não deixará que você perceba em outro par de olhos a solução para o encontro solitário de todas as noites com a cama, que não tem outros pés com ou sem meias para brincar enquanto o sono não vem.
Mas também vem para o bem, e junto das trágicas noites mal dormidas e muito bem choradas, te ensinará a crescer. Por dentro, a inocência que exterminou sem dó o que era pura integridade, se transforma e faz nascer uma outra mente, que dessa vez vem multiplicadamente paciente.
Dos benefícios, o maior: saber que ele existe. Ainda que turbulento e de difícil encontro (definitivo) com a realidade, é bom poder acreditar que alguém conseguiu despertar num coração que acabou sendo corrompido por pura revolta e falta de compromisso – consigo e com o outro –, aquilo que até hoje é o que de mais bonito conheci. E quando os dois derem de topa por aí na esquina de casa ou num bar da cidade, o desbravador que conseguiu nela a proeza do amor, merecerá ser homenageado com Oscars, foguetes e medalhas áureas e maciças. E ela, com beijos na testa, abraços de despedida, cócegas na barriga e, enfim, a retribuição da primeira e até hoje única plenitude que nunca lhe foi sem sentido e em hipótese alguma, desacreditada.

...bonito...reflexivo...gostei
ResponderExcluirabraços e boa semana!
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