Gosto de beber cerveja e não faço mudas as minhas gargalhadas; muito pelo contrário, deixo que elas saiam livremente pela minha boca e mostrem a todos a alegria que me domina, mesmo que essa seja apenas do momento. Adoro delineador nos olhos e mais ainda um batom vermelho vivo nos lábios, mas sei que os acessórios não combinam na mesma ocasião. Tenho as pernas grossas e gosto delas assim, por isso não é difícil me verem usando um short jeans, ou uma saia acima do joelho. Se o assunto é salto alto, também estou por dentro. Não os recuso mesmo quando meus pés estilhaçados pelo número quinze tentam me obrigar a descer. Prefiro preto a branco e vermelho a rosa – e isso minhas unhas quando pintadas podem mostrar. E já quiseram uma resposta direta e certa acerca do sutiã que visto. Ignoro. E sabe qual é o problema em não ligar por uma fração de segundos sequer para aquilo que as outras bocas dizem de maneira quase sempre pejorativa todas as vezes que se deparam com alguma dessas preferências que a mim são peculiares? Eles – que no plural também se refere a elas – se confundem. Pareço até um catálogo do qual você pode escolher a dedo o suposto erro que mais, ou melhor, que menos lhe agradar e a partir daí apertar com o maior gosto e a força de mais alta potência que lhes couberem, o botão cuja função é apedrejar.
Se bebo, sou vulgar. Se meu batom é vermelho, sou puta. Se o short estiver um palmo acima do joelho, sou piriguete. Se rio em alto e bom tom, sou exagerada. Estou mesmo por trás de todas as peças que descrevi e assino embaixo quanto a minha ciência em usá-las, bem como o vocabulário que exponho, as músicas as quais ouço, as idéias que defendo e as pessoas com quem ando. Porém, quem vê apenas um metro e sessenta de altura, cabelos longos, peitos e pernas, desconhece um mar de tantas outras virtudes. Jamais quis ser eleita a menina pra casar, até porque tal demonstração de compromisso nunca foi meu sonho de consumo. Falo gírias que geralmente são usadas com maior freqüência pelos homens e às vezes até ajo como um. Não faço cerimônias para sentar no chão, e nem mesmo pra xingar se meu humor por hora exige, e também converso abertamente sobre drogas e sexo. Acho que até o momento nenhum homem se candidataria, certo?! Provavelmente. E os motivos, alguém pode me dar? Não, não precisa; são mais do que óbvios. Eu simplesmente não seria a preferida dos raros que hoje se dispõem a colocar uma aliança na mão esquerda antes dos trinta e cinco, por acreditar que não saberia me colocar em um segundo plano na vida do talvez (sim, a crença na fidelidade do outro é apenas uma possibilidade já que o caminho do anelar esquerdo ao bolso da calça jeans não é nada distante) recém-encoleirado, porque antes viriam os domingos de futebol: o amador no campinho da cidade e o profissional na televisão. Também preferiria estar em um salão de beleza cuidando do que é meu ao invés de ganhar como nova profissão o cargo de secretéria-por-vinte-e-quatro-horas-do-marido, sempre pronta pra cozinhar o prato que mais lhe agrada, lavar, passar e engomar as roupas como ele prefere e não me esquecer de deixar separada do lado de fora do armário a camisa que no dia seguinte ele usaria. “E as crianças?” Desculpa, mas acho que perdi alguma parte do raciocínio porque não me lembro delas. Espero não ser castigada, mas tá aí um objetivo que vive completamente fora dos meus até o momento: filhos. Dão trabalho, sim, e pensando bem, já existem tantos que sofrem nesse mundo, pra que então colaborar com tal calamidade? Não que eu poria em vida um descendente meu em genes e semelhanças para sofrer, mas a vida por si só cumpriria com o que eu como mãe tentaria ao máximo evitar. Melhor então pensar em outras coisas. Um casamento provisório, quem sabe. Há tantos que hoje utilizam tal contrato, e fazem com que as dores de cabeça sejam consideravelmente reduzidas. A gente segue como tudo manda: trocamos os anéis que juram ser fiéis, amar e respeitar um ao outro por toda a vida e assinamos os papéis, e quando o prazo de validade se esgotasse, veríamos o que deveria ser feito: prosseguir ou interferir. É uma proposta tentadora, um caso a se pensar.
Sei bem que meu pensamento um tanto quanto moderno possa interferir na imagem que passo. Desinteressada pra uns, desvalorizada pra outros, desleixada pra todos. Não digo fisicamente, porque sei bem e gosto de me cuidar com todas as feminilidades que tenho direito, mas talvez o que julgam pode ser moral e eu agora tenho que pagar por algum erro cometido no passado. O preço cobrado é às vezes elevado, mas não reclamo porque sei que deve ser necessário. Só penso que aqueles que desconhecem o que está por dentro daquilo que só é visto de fora, devem se auto-regular e no mínimo ter a razão do que pregam com tanta convicção. Provem-me que não valho a pena e eu, então, me calo.
Não venho diante dessa espécie de desabafo, promover minhas boas qualidades a qualquer um que esteja de bobeira por aí. Mas é que esse papo de ouvir de outros o que talvez já fora distorcido por inteiro, principalmente quando o assunto me diz respeito, cansa, sabe, e tira precocemente da gente a credibilidade que deveria a mim ser creditada, porque sou mais do que as noites alcoólicas, a maquiagem borrada e a companhia de alguém por uma só vez. E quem não é, ou nunca foi? Não conheço, pois por mais visão de futuro, moral e bons costumes que qualquer pessoa tenha, são imprescindíveis os momentos de fuga: da sociedade e das mesquinharias que ela nos impõe, e dos pensamentos curtos dos outros que por falta de preocupação com o próprio viver, atenta-se ao do próximo que anda em paz com as próprias condutas.
Basta apenas ter a mente independente o suficiente a ponto de ser dono dos próprios desejos. Bebo quando quero, visto o que gosto, amo ao meu modo, e isso eu sei bem fazer. Despreocupem-se então, se me virem andando pelas ruas próxima a uma ponte: não vou pular; nem mesmo para o seu (des)prazer. E fiquem tranqüilos, pois as conseqüências que mais tarde me serão atribuídas por tudo que vivo, já têm minha total consciência, dispenso as recomendações onde as malícias transbordam, pois sei bem o que de melhor devo fazer por mim e para mim. Obrigada!

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