Eu sei lá o que é que você botou em mim; se foi veneno nos meus olhos ou uma mordaça na minha boca ou um sossega-leão dentro do meu coração. Seja lá o que for, quero te dar meus sinceros parabéns por ter sido tão capaz de domar qualquer fração minha sem que fosse necessário da sua parte se preocupar com a mínima resistência do outro lado do campo da batalha: o meu. E funcionou. Sua tática que sempre vi como uma incógnita funcionou de tal maneira que às vezes chega a me irritar por conseguir fazer com que eu seja tão mais você do que eu mesma, quase á todo momento.
Você me cansa, sabe. Sua contradição me enlouquece. Se me falasse de uma vez o que é que se passa nessa sua cabeça tão paradoxal, que sabe ser tão homem maduro quanto às decisões tomadas e tão moleque inconseqüente quanto às atitudes oferecidas, tudo se resolveria. Tão contraditório, busca em mim alguns momentos para fugir da sua – escolhida – realidade? É isso? Por acaso meu nome está aí em uma agenda qualquer largada em cima do seu criado que, mudo, consente tanto egoísmo e que você pega só quando quer dar uma aliviada na tensão dos dias? Acertei agora? Ou então, ainda te resta alguma coisa que eu deixei e que você se nega a aceitar por um motivo que nenhum de nós sabe? Desejo? Prazer? Ou vontade de me provocar para que eu aja e te favoreça, tomando o lugar da louca impulsiva que todos conhecem, enquanto você continua na zona de conforto que sempre foi seu trono, evitando qualquer tipo de culpa que certamente te deveria ser atribuída também? É isso o que mais me convence.
Pois é, dúvidas são os únicos presentes que hoje você me dá, e são daquelas que chegam a confundir e se alastrar ainda mais no peito que já não tem mais para onde se expandir porque você tomou conta do todo. Tudo se discorda, e eu comigo mesma, principalmente. Se antes estava certa do que fazer, agora titubeio por me faltar coragem de por em prática meu egocentrismo porque deixo que mais uma vez entre em campo seu time muito bem estruturado: altura compatível á minha pequenez, sorriso largo e anestésico às minhas dores, mãos compridas e de total segurança.
É de natureza – ou melhor, da astrologia – essa minha eterna indecisão: vermelho ou preto, saia ou shorts, salto alto ou rasteirinha. Te esperar ou de uma vez por todas te abandonar? Permaneço nessa instabilidade esperando que alguma luz apareça exclusivamente para me tirar dessa monotonia de você, mas tá difícil, tá difícil. Sábio que foi, Fernando Pessoa disse uma vez que “tudo o que chega, chega sempre por alguma razão” e sabe que é bem verdade? Junto de você, que quando veio causou um reboliço em uma vida que era toda programada, vi se aproximar, aos poucos, a falta: de mim. E ela deve ter seus motivos para me fazer aceitá-la tão assídua, e eu sei que realmente tem. Mas esse brinquedinho aqui dentro que adora – de segundos em segundos – dar suas batidas para que eu me lembre de quem manda mesmo no pedaço, faz questão de ir contra todas as morais e os bons costumes, os quais eu deveria tratar com extrema prioridade. E o resultado disso tudo você já conhece: eu por aqui; em meio às letras, às analogias, às vírgulas e aos tão esperados pontos finais que são sempre prolongados e metamorfoseiam-se em reticências.
Talvez nossos destinos estejam mesmo apontados para lados opostos. Você com a razão e eu com a emoção, você pensando no futuro e eu vivendo o agora, eu querendo o próximo e você a distância que hoje se resume em basicamente nós. E talvez essa distância me sirva como um antídoto para a loucura que criei, e me faça colocar nos eixos todas as estruturas que de mim você roubou. Porque talvez o conto de fadas que me vi construindo em um tempo de pura idealização, tenha ido embora ao passo que viu chegar o bom senso e as ameaças da realidade. Virei doença, virei vício, quiçá engano. Alguma coisa que hoje, vencida pelo cansaço, me impossibilita de seguir navegando rumo á terra que a cada dia penso menos conhecer, é o que me estimula a partir em busca de novos trajetos. E se essa for mesmo a rota que a mim foi prescrita, que eu a aceite e não mais questione, pois mesmo que tudo pareça correr em sentidos contrários, vale lembrar que se os opostos, de fato se atraem, os caminhos traçados seguirão a mesma regra e, nessa esfera de água, terra, pessoas e tantas turbulências em que vivemos, pela lógica, um dia tudo há de se encontrar e de cara!

Nenhum comentário:
Postar um comentário